domingo, 25 de junio de 2017

ALEILTON FONSECA [20.231]


ALEILTON FONSECA

Aleilton Santana da Fonseca. (Bahia, Brasil, 1959). Poeta, ensayista, profesor universitario. Tiene uma Maestría en Letras y un Doctorado en Literatura Brasileña por la Universidad de São Paulo. Publicó poemas, cuentos, artículos y numerosas reseñas en diarios, revistas y periódicos. Recibió premios literarios y publicó cinco libros de poesía: Movimento de Sondagem, O Espelho da Consciência, Teoria particular (mas nem tanto) do poema, As formas do barro y Un río em los ojos. En 2012 publicó un ensayo sobre la obra del poeta brasileño Mário de Andrade.

Obras

1981: Movimento de Sondagem;
1984: O espelho da Consciência;
1994: teoria Particular (Mas Nem Tanto) do Poema - Ou Poética Feita em Casa;
1996: Enredo Romântico, Música do Fundo, manifestações Lúdico-Musicais no Romance Urbano do Romantismo (ensaio);
1996: Oitenta: Poesias e Prosa. Coletânea Comemorativa dos "15 Anos dos Novos";
1997: Jaú dos Bois e Outros Contos;
2000: Rotas e Imagens: Literatura e Outras Viagens;
2001: O Desterro dos Mortos;
2003: O Canto da Alvorada;
2004: O triunfo de Sosígenes Costa;
2006: As Formas do Barro & Outros Poemas;
2006: Nhô Guimarães;
2007: Todas as Casas (conto);
2008: Les marques du Feu et Autres Nouvelles da Bahia;
2008: Guimarães Rosa, Écrivain Brésilien Centenaire;
2008: Tradução de Dominique Stoenesco);
2008: O Olhar de Castro Alves (ensaios críticos de literatura baiana);
2009: O Pêndulo de Euclides (romance);
2009: Cantos e Recantos da Cidade. Vozes do Lirismo Urbano (Junto com Rosana Ribeiro Patricio);
2010: A Mulher dos Sonhos e Outras Histórias de Humor (conto);
2012: Memorial dos Corpos Sutis (novela);
2012: As Marcas da Cidade (conto);
2012: Sosígenes Costa os melhores Poemas;
2012: O Arlequim da Pauliceia. Imagens de São Paulo na Poesia de Mário de Andrade;
2012: Um Rio nos Olhos/Une riviére dans les yeux;
2012: Jorge Amado nos Terreiros da Ficção (ensaio) (Organização: Myriam Fraga, Aleilton Fonseca e Evelina Hoisel);
2013: Jorge Amado: Cem Anos Escrevendo o Brasil (ensaio) (Organização: Myriam Fraga, Aleilton Fonseca e Evelina Hoisel);
2013: Un Río en Los Ojos;
2014: Jorge Amado: Cacau a Volta ao Mundo em 80 anos (ensaio)



MANIFIESTO

Si contengo
el impulso de mi palabra
no sobrevivo a la mudez:

la palabra es vida.

Si las manos capitulan
ante las amarras de día a día,
sangran con el hilo de la cuchilla:

manos atadas, manos mutiladas.

Si las venas no vehiculan
la brasa del sentimiento,
sucumben al hielo de la vida piedra.

Nada más queda
si no volverse vida.

Un río en los ojos. University Press of the South, 2013. (trad. Alain Saint-Saëns).




MANIFESTO

Se contenho
o impulso da minha palavra
não sobrevivo à mudez:

Palavra é vida.

Se as mãos capitulam
às amarras do dia-a-dia,
sangram ante o fio do cutelo:

Mãos atadas: mãos decepadas.

Se as veias não veiculam
a brasa do sentimento,
sucumbem ao gelo da vida pedra.

Nada mais resta
senão tornar-se vida.





Teoria particular (mas nem tanto) do poema 


1
ovídio: escrever 200 versos
para, dentre, recolher 20 linhas
que contivessem a poesia
de todo o processo: 
mas o caudal imenso
não se investe só dos vestidos
da forma nem se conforma 

2
mas, há o tempo: é preciso,
por humana deficiência,
o instante grafado:
embora o fluxo da essência,
contínuo, jamais se desfaça
na mão: o poema acabado,
tal como lemos,
é somente convenção

3
pois 
o que acaba de se compor,
já desmorona,
se desdiz, se rediz, mildiz,
novas palavras no invento,
novo inventário
em dez dobras vezes n
desdobra-se 
no princípio 
e agora e sempre 

4
a ilíada são muitas ilíadas, 
quão homeros a escrevê-la 
e talvez por concluí-la ainda:
as estrofes que agora lemos
à falta da mão de homero
damos então por findas

5
mas no poema: cada verso,
é reverso do verso, diverso 
no próximo segundo;
cada palavra cede 
seu lugar, chama
a outra, que logo apaga, 
outra chama, reacende sílabas, 
rimas, sentidos,
rios incontidos

6
os lusíadas de camões, 
o que lhe sobrou de naufrágios,
para sempre incompletos
daquilo que virou água, 
ou que ficou disperso,
dos versos tornados mares,
onde camões? (oh, finitude!)
para prosseguir o que não deu tempo: 
com engenho e virtude 
e arte 

7
o poema muda 
de cor e de nome a cada piscar 
de olhos,
se alonga, se encurta, 
cada rima some
no som que emite
e transmite a centelha
à outra rima, parelha:
corrida de som infinda
poemando-se

8
baudelaire reescreveu as flores
até o fim de sua vida
e as flores ali contidas 
não estão terminadas, 
a não ser por convenção
e favor à comodidade:
baudelaire houvesse vivo,
as flores contínuas, mudadas

9
cada versão, tal rima a esmo, 
reinscritos versos, 
os ex-certos, nem mais 
nem menos certos,
o mesmo intérmino texto,
em eterno palimpsesto 

10
os calligrammes de apollinaire 
necessitam de revisão: 
pena que o poeta 
não esteja aqui a fazê-la 
e que assim seja
"para o bem da convenção"

11
pois o poeta e o poema,
entre si adotados, convivem 
diários, instantâneos, côngruos,
mesmo se esquecidos um do outro
cada um é outro e o mesmo; 
que a cada golpe de ar
novos sensos se acumulam
nos joelhos das palavras

12
quantas pe(r)sso(n)as e vozes
no baú de inéditos do pessoa
à espera de nome e signo
e profissão e biografia: 
e não fosse a vã cirrose
quantas mensagens ele a refaria?

13
o poema é o fazer incompleto, 
o refazer nunca pronto

14
pois o poema, 
já no instante que pronto, 
já recomeça,
em processo difuso, 
inconcluso,
intransitivo, de re-flexões:

15
que não há o poema particípio,
mas sempre o poema gerúndio
em constante fervura:
é novo e outro, na leitura,
nos reciclos dos segundos

16
o poema que se lê
é tábua de aproximação

17
o poema publicado: trato caduco,
que junto ao poeta já está mudado:
mesmo que não o mude a letra,
mesmo que não o mude a rima,
que não mais o toque,
por respeito ao senhor editor,
por respeito ao senhor leitor,
ao senhor pesquisador
ao senhor louvor:
mesmo que o poeta
assine a convenção do texto 
pronto (para o mercado?)
ou mesmo abandone o texto,
a pretexto de acabado,
o poema disporá da hora
de ser outra vez revelado
se outra voz o adota

18
e o poeta, com seu texto pronto,
se já se embebe de elogios eunucos
já saliva manifestações de apreço,
e a poesia paga o preço

19
o poema publicado:
mera marca provisória,
impresso para as provas
de que se faz a história: 
é o rastro de um vôo veloz
que poesia é rio que recomeça na foz;
quando se digita o ponto 
final, já é hora de apagá-lo
que a corrente segue em frente,
os seus elos sem intervalo

20
contudo, pobres humanos,
só sabemos existir 
imprecisos
entre pausas: comer, beber
ir ao banheiro,
ganhar e gastar dinheiro,
dormir, sonhar, sorrir;
as causas para o viver 
a pausa para morrer:
a poesia perde por esperar

21
somente em alguns momentos 
somos o poeta, em vigília e fé:
em que a poesia, nosso invento,
nos inventa
e nos dá a concessão do poema,
mero quadro, em interrupção,
que ela é onda contínua em nós
mesmo se nos deixa sós

22
então, poetas, 
que já me ensinam o sem início 
nem fim:
o ponto final, abolido!
o ponto inicial, abolido!
o começo, simples acerto de pares,
o fim o sem-fim inumérico,
infinita água de mares,
o poema dito no instante 
que a poesia o dita 

23
pois a poesia, estado de ser,
não se captura no humano molde
de letras; ela resiste e insiste
diante dos olhos invisíveis 
do poeta que se sabe seu
que a sabe sua, 
e sabe: a poesia nua, 
companheira e algoz,
toma-lhe o fôlego e a voz,
suspende suas noites,
retira-o da vida, e, num átimo,
se entrega por um instante
entremostra-se, falso-domada
em registro parcial
da luta jamais vã,
mal rompe a manhã 

24
a poesia: o rosto na água;
o poema, sua inconstante
aparência, forma mutante, 
em recorrência, minúsculas 
mudanças em contínua 
ação

25
poetas, retomem os seus poemas
despregando-os do papel impresso,
raspando-os da tinta áfona,
em renovada contradança 
de metáforas em processo:
o poema, colado no branco da página,
clama por fluir e refluir 
em novas sintaxes, 
em novas vírgulas, 
em novos sentidos;
desdobrar-se em leques vários,
entremostrar, desde as entrelinhas,
seus novos significandos
em poessência

26
que se o poema se esgota,
da poesia abandonado,
torna-se somente corpus, 
de pesquisa e enunciados,
em autópsia textual
que lhe decreta o sentido,
em seu mais "último grau",
de seus versos dissecados

27
oh, amém, poema finado

28
mas não há a poesia finita,
mas corrente, em espiral, sem termo
o poema é o instante,
dessa corrente em passagem 
re-fulminante,
diante dos olhos atônitos 
do poeta, às vezes surpreso, 
em agônico gesto

29
o poema re-preso no papel,
em tinta enformado, 
sob tratos cosméticos, convencionados,
esconde sua verdade;
o poema é mais que o brilho de letras
para olhos desavisados, 
e, como não há parto asséptico,
assim nasce, corpo de palavras,
entre suor e risos e gases e lágrimas

30
sempre o poema-sendo-ando-indo, 
em gerundivo estando, em contínuo...





Motivo

calar é ceder à morte
sob o gume da automordaça

o grito é o sangue da vida,
dardo do espírito inquieto

por isso 
(meu) grito!
júbilo ou/e dor 

sei que eles despedaçam silêncios,
abarrotam vazios e conquistam rumos
que nunca seriam devassados
não fosse sua viagem no tempo

sobretudo
têm o condão de ressuscitar
fragmentos de mim
porventura tombados nalgum combate
oculto nas moitas do tempo




O(fí)cio

há bigornas 
espalhadas
por todo                 espaço
e um fogo larva
que nasce em si mesmo magma
sem nenhuma preocupação com as horas

oficina - casa do ofício, ócio, cio
acima um aviso breve
permitindo a entrada de pessoas estranhas
ao serviço
                e martelos
                usados ou virgens
e muito
ferro signo
                para fundir

portanto
o ferreiro não dorme
e malha o gesto em sangue quente,
como era no
princípio 
       e agora
                e sempre:
                                poesia




Nova meditação sobre o tietê

"Águas do Tietê,
onde me queres levar? 
- Rio que entras pela terra
e que me afastas do mar..."
(Mário de Andrade)

águas do tietê,
no jorro de tuas nascentes:
melhor ficassem paradas
em teus reflexos afluentes

tietê: índias águas verdadeiras
quando te chamavas anhembi
e tuas sinuosas ribeiras
guiavam um povo guarani

aquieta-te como lago,
esta pressa para que,
se adiante a luz de espelho
logo tu vais perder?

te insinuas por quilômetros
em teu leito decidido,
insisto no meu reclamo
mas descrês do meu aviso

segues murmurando marchas
incertas em certo destino
e mal sabes o destrato
dos esgotos mais íntimos 

por teus caminhos indiretos
viajaram bandeirantes heris,
e agora bandeiam os dejetos
dos seus netos fabris

tuas águas conduziram à glória
os vencedores das regatas 
nas linhas d’água da memória
da cidade que não te resgata

águas do tietê,
onde me queres levar?
- teu traçado e teu destino
não se casam com o mar...

exala antes que tarde
o aroma que será deposto!
em tua cor se resguarde
o teu sabor sem desgosto!

pois já te vão injetando
mais volume e vida a menos:
e nas tuas líquidas veias
os insanos vícios dos venenos

em tuas artérias aguascentes,
no percurso transformadas,
corre agora o pus demente:
e mal deságuas putrefatas

eis que te tornas plumas,
brancas formas cristalinas:
belo engano para os olhos,
e o odor corrói as narinas

há remédio mais perfeito
do que apenas uma lágrima,
se todos chorassem em teu leito,
lavando tuas águas da mácula

mas ninguém me escuta, corres
sem garças, só antíteses,
desde o lugar onde morres
até o pasto de lamas líquidas

águas do tietê,
onde me queres levar?
- eis as pontes e tudo é noite,
e muito longe dorme o mar...

te olho e não me vês, assim
em vão, corpo cego de águas:
em verso te afogo em mim,
em ti me afogo em mágoas...











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