lunes, 22 de septiembre de 2014

ANNITA COSTA MALUFE [13.412]


ANNITA COSTA MALUFE

(São Paulo, Brasil 1975) es una poeta brasileña. Licenciada en periodismo por la PUC-SP y doctorada en teoría literaria de la Unicamp, donde estudió poesía francesa contemporánea y filosofía de la diferencia.

Obras publicadas:

Como se caísse devagar , (Editora 34, 2008; Nesta cidade e abaixo de teus olhos , (Ed. 7Letras, 2007); Fundos para dias de chuva , (Ed. 7Letras, Coleção Guizos, 2004); Territórios dispersos: a poética de Ana Cristina Cesar , (Ed. Annablume, 2006, 170 pg, ISBN : 8574196606).





tú 
eres 
muy 
pequeña 
mira tus
manos 
la longitud 
de los 
dedos
la delicadeza 
de las 
piernas 
caminamos
juntas 
yo 
intento 
alcanzarte 
después
tus pies 
estaban 
fríos 
quizás 
estuvieses 
toda 
fría 
envuelta
en aquella 
sábana 
cuando 
hace 
mucho
frío 
me 
cambio 
bajo 
las mantas 
mientras 
traes 
el café 
en 
la bandeja 
de 
plástico 
la leche
aún 
tibia 
la persiana 
cerrada
más de 
dos años 
o sólo
semanas 
arrastrar 
las chanclas 
ella
entraba 
en el cuarto 
cada 
media 
hora
no me 
gusta 
mandarla 
fuera 
no hagas
esto 
necesito 
tener 
mi vida
déjame 
tú tienes 
la tuya 
no la tienes
creo
que ni 
te acuerdas 
es 
solamente
arrancar 
la página 
del cuaderno 
de notas 
un hecho 
olvidado 
más sé 
que
hay 
más hechos 
olvidados
que
recordados 
es 
por eso 
que 
lo anoto
todo es 
por eso 
que vine 
es por eso
mismo 
que no 
vengo 
más
cada 
media 
hora 
cada 
media
hora 
también es 
demasiado 
ten compasión
el camino 
en coche 
será 
el que tu
te acuerdas 
era aquí 
que tu
vivías 
las madrugadas 
en la tv 
de la sala
los dos cuartos 
de baño 
uno 
enfrente 
del otro 
el hall 
del teléfono 
los ladrillos
cara 
vista 
claro 
me acuerdo 
son
sólo 
imágenes 
que pasan 
por la
ventana 
del coche 
mientras el
camión 
se arrimaba 
ya me 
mudé
tantas 
veces 
sabes que
cada 
día 
despierto 
en un lugar 
diferente

(Fragmento de la secuencia inédita um caderno para coisas práticas)



você

você é muito pequena veja as
suas mãos o comprimento dos dedos
a finura das pernas caminhamos
juntas eu tento te alcançar depois
seus pés estavam frios você
talvez estivesse toda fria envolta
naquele lençol quando faz muito
frio eu me troco embaixo das
cobertas enquanto você traz o
café na bandeja de plástico o leite
ainda morno a persiana fechada
mais de dois anos ou apenas
semanas arrastar os chinelos ela
entrava no quarto a cada meia hora
não gosto de mandá-la embora não faça
isto eu preciso ter a minha vida me
deixe você tem a sua não tem acho
que você nem se lembra é só
arrancar a página do caderno de
notas mais um fato esquecido sei que
há mais fatos esquecidos do que
lembrados é por isto que anoto
tudo é por isto que eu vim é por isto
mesmo que eu não venho mais
a cada meia hora a cada meia
hora também é demais tenha dó
o caminho de carro será que você
se lembra era aqui que você
morava as madrugadas na tv da sala
os dois banheiros um de frente para
o outro o hall do telefone os tijolos
aparentes claro eu me lembro são
apenas imagens que passam pela
janela do carro enquanto o
caminhão encostava já me mudei
tantas vezes você sabe que
cada dia acordo em um lugar diferente

(Fragmento da sequência inédita um caderno para coisas práticas)




(1)

os livros o carpete a pilha de livros no chão a estante abarrotada de livros
o espaço sem lugar para respiro
o pó dos livros
eu me fazia lúcida em meio à fumaça de cigarro que se misturava com a poeira
a poluição do centro da cidade ao meio dia
a longa espera
e eu olhava para o teu rosto com uma pergunta insolúvel
que mal sabia formular
os teus olhos perdidos na neblina
(não sei se eram teus olhos que eu buscava
tampouco sei se era você)
teus olhos estavam voltados para dentro em uma acrobacia nunca vista
havia também os óculos e o suor havia os rasgos do teu rosto as rugas alguma ferida
havia alguma ferida mal cicatrizada
essas marcas o pó a brisa acinzentada que tingia os vidros o mofo nas páginas dos livros
tanta coisa preenchia o espaço entre a minha pele e a tua
(e eu nem sabia se eram teus olhos ou algo que estava por trás deles
por trás da acrobacia que teus olhos faziam)
tanta coisa prendia nossa respiração
que eu devia me fazer lúcida e aguardar
um banco a vontade de ir ao banheiro o café morno da garrafa
o cenário de uma vida em que os livros envelhecem antes dos corpos
eu não podia lamentar minha presença nem a dos papéis craft enrolados a coleção de papéis com as pontas amassadas
os arquivos de metal
era preciso ter algo por onde passear os olhos os meus olhos
(não sei se eram os teus que eu buscava
ou se buscava fugir)
passear os olhos no cartaz de uma peça da década de setenta o pôster de uma tourada espanhola o cardápio de um restaurante italiano em um vilarejo medieval
como fugir destes monumentos mínimos de uma vida
qual seria esta espera
teus olhos voltados para trás da cabeça e a minha pergunta reverberando entre as paredes entre o mofo das paredes
a minha pergunta grudada na umidade quente e abafada de um meio dia no centro da cidade
a minha pergunta que não chegava até você que não chegava em teus olhos voltados para dentro que não alcançava a acrobacia dos teus olhos e ficava pregada na fuligem dos ônibus nos ruídos que se misturavam com as palavras com as nossas palavras
nossas vozes que eram só fumaça e confusão algum pequeno fio que nos mantivesse ali que nos prendesse mesmo que momentaneamente entre aquelas estantes abarrotadas de livros caixas papelões objetos de acrílico de madeira jogos que já nem se fabricam mais
(e eu nem sei se era você que estava ali
por trás da minha respiração)


(2)

a imagem no aparador é mera alucinação
um meio nariz mal delineado a quarta parte de um olho
o queixo um pedaço de gola
a sombra de um tronco infantil
seria uma lembrança não fosse o fato
de não me reconhecer nestas unhas que saem de dedos compridos
no modo de cruzar as pernas
curvar o corpo inclinar o pescoço para a esquerda
para a direita
piscar nervosamente a quarta parte de um olho negro
cravado numa pele transparente
seria mera alucinação?
uma das mãos se mantém fechada
enquanto seguro o guarda-chuva e procuro
dentre os pedaços dispersos
o outro braço que alcançaria a maçaneta da porta a meu lado


(3)

dos fios desta separação, abre-se uma porta discreta, pequena
quase imperceptível
economizar uma ou outra palavra não faz diferença
são fios longos
um emaranhado de ondas e feixes de luz
não faz grande diferença a geografia das frases
falamos articulando tons e gestos apenas
nada transcorre de fato nas frases
nada nas palavras ou no entre-sílabas
mas fios
um emaranhado que às vezes transparece
às vezes some
um calar de expressões e olhares
a boca entreaberta
um fechar de pálpebras
ao alcance das mãos a maçaneta a porta
uma pequena porta que às vezes transparece
às vezes some
nesse longo emaranhado
de fios
em que se buscam e se perdem
nossas vozes nossos vãos
fios
e uma longa separação
a porta entreaberta
já não posso me conter
as curvas transparecem em meus dedos
a curvatura da maçaneta e a porta
tão pequena, ao fundo
a porta que se abre
a porta e a passagem para fora



dos fios desta separação, abre-se uma porta discreta, pequena
quase imperceptível
economizar uma ou outra palavra não faz diferença
são fios longos
um emaranhado de ondas e feixes de luz
não faz grande diferença a geografia das frases
falamos articulando tons e gestos apenas
nada transcorre de fato nas frases
nada nas palavras ou no entre-sílabas
mas fios
um emaranhado que às vezes transparece
às vezes some
um calar de expressões e olhares
a boca entreaberta
um fechar de pálpebras
ao alcance das mãos a maçaneta a porta
uma pequena porta que às vezes transparece
às vezes some
nesse longo emaranhado
de fios
em que se buscam e se perdem
nossas vozes nossos vãos
fios
e uma longa separação
a porta entreaberta
já não posso me conter 
as curvas transparecem em meus dedos 
a curvatura da maçaneta e a porta 
tão pequena, ao fundo 
a porta que se abre 
a porta e a passagem para fora





a verdade é que as malas já estavam prontas
na véspera 
ela seguiu junto com ele
uma espécie de viagem sem volta
só a passagem de ida
era a busca por um outro mundo a busca por
algum lugar possível
o mais distante que pudessem ir
apenas a passagem de ida a pouca bagagem
decidir depois onde ficar
as malas já estavam prontas e eles seguiram
sem pressa
eu fiquei olhando de longe
achando bonito aquilo
aquele casal sumindo na neblina
caminhando lentamente
como num filme que não me lembro o nome
como as cenas finais de um filme cobertas pelo letreiro
dois corpos da mesma estatura abraçados
empurrando duas pequenas bagagens
os rostos sorrindo
mesmo de costas
era o que se via mesmo de costas
os rostos sorrindo nos contornos que iam perdendo a nitidez
à medida que avançavam







aqui estou tão longe 
quase não posso me lembrar 
a sonoridade o timbre apenas sei da batida 
que insiste como num filme recente 
nas imagens de uma cidade italiana 
perdida na história 
estou tão longe é como se outra vida como 
se outro filme rodasse de trás 
para frente





onde termina o poema onde
um ponto de suspensão apenas
o poema não termina quando
a linha roça a beira do papel
tampouco a língua roça
aquilo que ela alcança
para além da página há
o poema imaginado sempre
uma imagem de poema
desfazendo-se afundando um
navio atracando-se no espaço
um navio a cada vez refeito mas
o corpo do poema não é
imaginário tampouco a
possibilidade de um limite não
há limite apenas limitação a
folha acaba a tinta acaba a
língua é o ponto de desacordo
roçar a página ancorar mas
a cada vez apenas por um instante
este inacabado este
que nunca termina

  







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