miércoles, 2 de octubre de 2013

OSWALDO OSÓRIO [10.629]


OSWALDO OSÓRIO 

Oswaldo Osório nació el 21 de noviembre de 1937 en S. Vicente, Cabo Verde. Asistió al liceo Gil Eanes y al Seminario Nazareno. Publicó, entre otros, Caboverdianamente construção, meu amor, 1975; Clar(a)idade asombrada, 1987; Os loucos poemas de amor e outras estações inacabadas, 1997, y A sexagésima curvatura, 2008






Picasso de Geneviève Laporte
era lo que leía esa mañana de domingo
de repente se me nubló la vista en la veranda
bajo un gris filtrado de cristales acrílicos

de una cuarta estación confundida con diciembre
Y desde dentro un frío:
“Ven a ver, es un eclipse”
Y entre mis dos riñones

el sol  y la luna ya casi superpuestos
se disponían en la placa como un tumor
de sangre y negros humores:
y velocísima mi Navidad se eclipsa





naufragio
  
todo lo que hago ahora
es sin prisa y lentamente
hasta el tiempo de amar
es recogida el áncora
Es muy breve la escritura
como leve es la tinta
No naufrago en los mares
soy resaca de las mareas
Me ensucio de lodo y sal
abrazado en la arena
al frío que refrena
este viaje mío





recuerdo nº 4

para alda

siete años de vacas flacas
siete años de vacas gordas
dejé siempre a mi estrella
navegar a toda vela

en las mareas de poco sebo o mucha leche
y mi estrella un día naufragó
al doblar el cabo donde se olvidan todos los ciclos

¿qué hice de mi estrella
para despertar de un sobresalto
en sus brazos
buscando sus pedazos?

[Traducción: Joan Navarro]


MÁS EN LA WEB:
http://seriealfa.com/alfa/alfa49/






Oswaldo Osório (pseudônimo literário de Osvaldo Alcântara Medina Custódio) é nome destacado na literatura cabo-verdiana.

Nascido no Mindelo a 25 de Novembro de 1937, distingue-se como poeta e contista, sendo um dos fundadores do caderno de cultura do Notícias de Cabo Verde, Sèlo.
Fez os estudos secundários e o seminário em Nazareno, tendo exercido várias funções profissionais, como trabalhador de rádio, funcionário público, empregado de comércio, presidente da União dos Sindicatos, director do "Suplemento de Poesia dos Anos 80", Voz di Povo, co-fundador da página de cultura Seló, onde iniciou a sua actividade como poeta e prosador.

Em consequência das suas actividades políticas, estreitamente ligadas às acções culturais durante o regime de Salazar, Oswaldo Osório foi preso por duas vezes. 
Da sua produção literária, salienta-se os poemas de luta “Caboverdeanamente Construção Meu Amor” (1975), “Cântico do habitante. Precedido de Duas Gestas” (1977), “Clar(a)idade Assombrada” e “Os loucos poemas de amor e outras estações inacabadas”.
No domínio da prosa, escreveu “Cantigas de Trabalho – Tradições Orais de Cabo Verde”, “Emergência da Poesia em Amílcar Cabral (ensaio) e Nimores e Clara & Amores de Rua” (romance). O novo livro de poesia: “A Sexagésima Sétima Curvatura” Colaborou, ainda, em publicações diversas, como “Selo”, “Alerta”, “Vértice”, “Notícias de Cabo Verde” e “Raízes”. A sua obra encontra-se também em várias antologias de literatura africana.

“As Ilhas do Meio do Mundo” é título do próximo romance do escritor.
Fonte da biografia: www.inforpress.cv  




Picasso de Geneviève Laporte
era o que lia nesse domingo de manhã
súbito escureceu-me a vista à varanda
sob um cinzento filtrado de vidros acrílicos

de uma quarta estação confundida com Dezembro
E de dentro um frio:
“Vem ver, é um eclipse”
E entre os meus dois rins

o sol  e a lua já quase sobrepostos
dispunham-se na chapa como um tumor
de sangue e negros humores:
e velocíssimo o meu Natal se eclipsa





naufrágio

tudo o que faço agora
é sem pressa e devagar
até o tempo de amar
é recolhida a âncora
É bem breve a escrita
como leve é a tinta
Não naufrago nos mares
sou ressaca das marés
Sujo-me de salsugem
abraçado na areia
ao frio que refreia
esta minha viagem






lembrança nº 4

para alda

sete anos de vacas magras
sete anos de vacas gordas
deixei sempre minha estrela
navegar de velas pandas

nas marés de pouco sebo ou muito leite
e a minha estrela um dia naufragou
ao dobrar o cabo onde se esquecem os ciclos todos

que fiz da minha estrela
para acordar num espanto
nos braços dela
a catar os seus pedaços?




MANHÃ INFLOR

as héveas murcharam
desertas de folhas
desertas de flores

propositadamente
nem só o sangue mas também a seiva
nem só a criança mas também a pétala
nem só o homem mas também a planta
nem só a carne mas também a lenha
propositadamente

tudo o hamadricida flagelou

a beleza da flor
a inocência da criança
a certeza dos campos
o aconchego duma sombra

mas nos covis a vida continuou
e o apelo à luta redobrou

as héveas murcharam
e com as héveas
a manhã inflor
a terra nua

mas ainda a vida
nos covis continua





HOLANDA

holanda companheiros
chegámos
chegámos com barcos guildas nos olhos e desejo de vencer

chegámos intermináveis e actuais às docas
betão aço cargueiros e braços precisados
chegámos numa dimensão nova
(ah as roças de s.tomé serviçal meu irmão)
e pusemos todo o nosso esforço
lubrificámos máquinas
alimentámos caldeiras
navegámos por oceanos de fogo e fiordes de gelo
mas foi nos mares da terra nova
no tempo em que de boston a américa mandava seus barcos baleeiros
para nos contratar
que ganhámos o bronze da nossa pele

        The Best Sailors of the World

sob bandeiras estrangeiras brigámos guerras que não eram nossas
para agora amarmos ao ritmo de torno novo
e múltiplas bocas ao nos verem dizem
      
        Let them get by

chegámos às docas companheiros
nas docas com barcos guildas nos olhos e nossa terra nos nossos sonhos
chegámos intermináveis para o match
e pusémos todo o nosso esforço na luta
pusémos esperança na nossa força de trabalho
e quando nos vêem chegar dizem

      Let them get by

aqui ou ali passaremos sempre porque chegámos companheiros
a esperança trasformada em actos nos nossos punhos

a seca o sol o sal o mar a morna a morte a luta o luto
ao nos verem passar dizem que ultrapassaremos os sonhos
e o match é em nossa terra que vai terminar 






CAVALOS DE SÍLEX

ainda estávamos em guerra quando fomos à lua
e tínhamos fome e feridas nos olhos de cegar

agarrávamos o futuro com a luz do laser
e as flores gelavam aqui donde partíamos com carbúnculos nos braços

pássaros de pio futuro por onde andávamos
deixámos a terra grávida de salamandras esventradas

ganhávamos o pão nosso cada dia com medidas de suor
e um inverno de vómito estarrecia sob as raizes

as galáxias mediam-se por braçadas de legumes ou milho ou arroz
que no-las distanciavam e as estrelas fugiam perseguidas
por cavalos de sílex

o sonho criava lodo cada manhã
as palavras mal nasciam apodreciam em limo

nesta situação-limite os seios o sexo o sémen
convenceram os homens nas suas fábricas
de cavalos de sílex

tarde

peitos punhos pulsos resolvemos ousar nosso pão





ROSA (IN) FIXA

não há quem não persiga uma rosa
nos escassos dias da mortal residência na terra

não há quem não a busque
mística ideal solitária carnal geográfica ou comunal
inseparável de longas veias e bandeiras

nunca houve quem não a desejasse colhida nas mãos em concha
como água purificadora desses escassos dias de residência

volátil volúvel sublima-se e desespera ao mínimo gesto
do toque e do encantamento o achador

qual a tua rosa?

temos cada um de nós a rosa eletiva e nunca idêntica
por mais próxima mística ideal ou comunal à do outro

a rosa (in)fixa só aparentemente se movimenta
somos nós atrás dela velozes e perdidos
ansiosos de busca do que não temos ou temos imperfeitamente
cada um quer a sua rosa
clandestina mas rosa
apaixonada mas rosa
solitária — todas as rosas são solitárias — mas ainda assim rosa
comunal porém de todos rosa
carnal ou mística sempre e ainda rosa rosa mesmo que conspurcada
e rosa da rosa-dos-ventos rosa é
desabrochada sobre o mundo
                 de ilha a continente
                 de mar a mar
                 de pólo a pólo
                  levada pelos ventos

ó rosa que nos diversificas no âmago de ti própria!
qual a tua rosa?

rosa de ninguém porque minha e eletiva
não há quem não persiga a sua rosa
inagarrável estrela que adia a mortal residência
e nos sobra no leito ao acordarmos
nem sabemos em que horizontes de outras rosas.



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