miércoles, 24 de septiembre de 2014

MARCELO MONTENEGRO [13.434]


Marcelo Montenegro 

Nació en São Caetano do Sul (São Paulo, Brasil) en 1971. Ha publicado los libros De soslaio (1997), Orfanato portátil (2004) y Garagem lírica (2012).


Marcelo Montenegro (São Caetano do Sul, 1971) é autor de “Orfanato Portátil” (Atrito Art Editorial, 2003). Têm poemas e outros textos publicados nos principais sites e revistas literárias do país. Ao lado dos músicos Marcelo Schevano (piano), Flavio Vajman (gaita), Marcello Amalfi e Fábio Brum (guitarras), criou o espetáculo “Tranqueiras Líricas”, apresentado, entre outros, no Sesc Pinheiros, Galeria Olido, Biblioteca Alceu Amoroso Lima, Galeria Virgílio e Casa das Rosas. Participou do projeto “Poesia na Idade Mídia”, no Itaú Cultural (Ago/2005), que reuniu 8 poetas brasileiros (Celso Borges, Frederico Barbosa, Rodrigo Garcia Lopes, Artur Gomes, Chacal, Ademir Assunção e Ricardo Aleixo) que viraram referência nesta intersecção entre literatura e música no palco. No mesmo lugar, em 2006, integrou o “A(u)tores em Cena”, com escritores contemporâneos sendo dirigidos por diretores de teatro. É roteirista e editor de vídeo e membro do grupo de teatro Cemitério de Automóveis onde opera luz e sonoplastia.




Dossier de Poesía brasileña actual, preparada por Fabiano Calixto y traducido por Mijail Lamas, algunos poemas de Marcelo Montenegro. Su poesía desenfadada se sirve de distintos referentes la cultura popular. http://circulodepoesia.com/



Manojo de presagios

De todo, tal vez, permanezca
lo que significa. Lo que
no interesa. De todo,
quién sabe, quede aquello
que pasa. Un geranio
de aflicción. Un gusto
de obturación en la boca.
Tú de cabello mojado
saliendo de la regadera.
Un trino. Un proverbio.
Un manojo de presagios.
Sonido de una gota en el lavabo.
Trincheras líricas
en la vieja caja de zapatos.
De todo, tal vez, resten
ebrias anotaciones
escritas en servilletas.
Y aquella linda música
que nunca tocan en la radio.



Buquê de presságios

De tudo, talvez, permaneça
o que significa. O que
não interessa. De tudo,
quem sabe, fique aquilo
que passa. Um gerâni

de aflição. Um gost
de obturação na boca.
Você de cabelo molhado
saindo do banho.
Uma piada. Um provérbio.
Um buquê de presságios.
Sons de gotas na torneira da pia.
Tranqueiras líricas
na velha caixa de sapato.
De tudo, talvez, restem
bêbadas anotações
no guardanapo.
E aquela música linda
que nunca toca no rádio.




Exile on main street

El balde azul claro. El viejo patio.
El renacuajo sucio de la memoria.
Un film que se explica, con tomahawk, desde el fin.
Fuerte apache. Bencidamina. La llaneza del servicio.
Querer ser moderno, mi bien, termina en esto.
Poemas sobrios, beiges, concisos.
Y evitar en el poema palabras como: bagatela.
220 volts. Rick Wakeman es el Olavo Bilac del rock.
Ni todo pata-de-palo tiene su día de crack.
Fraude. Spaghetti western. Rabieta infantil.
Charme incierto de forastero, baby.
Que la cuota cubre la fianza.



Exile on main street

O balde azul claro. O velho quintal.
O cabeçote sujo da memória.
Um filme que se soletra, a tacape, desde o fim.
Forte apache. Benflogin. A lisura do serviço.
Quer ser moderno, meu bem, dá nisso.
Poemas sóbrios, beges, concisos.
E evitar no poema palavras como: Bugiganga.
220 volts. Rick Wakeman é o Olavo Bilac do rock.
Nem todo perna-de-pau tem seu dia de craque.
Estelionato. Western Spagueti. Birra de criança.
Charm incerto de forasteiro, baby.
Que o cachê cobre a fiança.



MAKING OF

Acabar con toda gentileza
Y concluir mi propia temporada de caza
Dejar de arriesgarme
Salir de mi naturaleza
Estrangular esa ternura metida en la bestia
Sabotear la causa
Mutilar la fiesta
Desistir de lo que pienso
Psicografiar mi risa
Sancionar mi egoísmo
Volantear este silencio
Cultivar una granja de murciélagos
Y en mi alfabeto loco de miedo
Apagar de una vez por todas
Todos los aposentos de la delicadeza
Estuprar esa levedad
Destituirme de esta maldita manía
De olvidar siempre
Una luz encendida




MAKING OF

Acabar com toda gentileza
E concluir minha própria temporada de caça
Parar de me arriscar
Dar o fora da minha natureza
Esganar essa ternura metida a besta
Sabotar a causa
Mutilar a festa
Desistir do que penso
Psicografar meu riso
Sancionar meu egoísmo
Panfletar este silêncio
Cultivar uma plantação de morcegos
E no meu alfabeto maluco de medos
Apagar de uma vez por todas
Todos os aposentos da delicadeza
Estuprar essa leveza
Destituir-me desta maldita mania
De sempre esquecer
Uma luz acesa




poema estatístico

Tem uma esquina prenha de um latido.
Trechos de pássaros que permanecem
nos muros que ficam. E vice-versa.
Um email anotado às pressas no canhoto do tintureiro.
A cirrose portátil. A síndrome do pânico.
O enroladinho de presunto e queijo.

Tem a Mulher mais Linda da Cidade.
Groupies de cabelo rosa. Poodles
da solidariedade. Alguém chorando lágrimas
de tubaína. Penélopes Charmosas.
Dick Vigaristas. Um cara que já sai desviando
do cinema del arte, evitando ser atingido
por alguma conversa perdida.

Tem a mulher da vídeo-locadora
que não conhece o filme que estou procurando.
Um amigo que diz que escreve só para colocar epígrafes.
Taxistas infláveis. Manicures em chamas.
Um casal que desce a rua na banguela
prolongando a gasolina daquilo tudo
que um dia fora. Eu ando apaixonado
pela mulher da vídeo-locadora.
Lendo revistas na sala de espera
do consultório dentário. Tem uma
que venta. E um que desiste.
De arranhar os vidros do aquário.




grutas

À paisagem gravitam
Nas grutas do invisível
Pequenas ou grandes coisas
Que não se explicam

E aparecem
E passam
Evaporam
E chovem no meio do mar

A gente nunca sabe a hora
E é sempre a hora exata

De se olhar





velhas variações sobre 
a produção contemporânea

Agora mesmo algum maluco
deve estar postando qualquer treco
genial na internet,
alguém deve estar pensando
em como melhorar aquele
texto enquanto lota o especial
de vinagrete, perseguindo
obstinadamente um acorde
voltando da padaria.

Agora mesmo alguém
pode estar pensando
que guardamos só pra gente
o lado ruim das coisas lindas –
assim, trancafiado a sete chaves
de carinho – alguém
pode estar sentindo tudo ao mesmo tempo
sozinho, assim brutalmente
sentimental, feito coubesse
toda a dignidade humana
num abraço tímido.

Agora mesmo alguém deve estar limpando
cuidadosamente o CD com a camisa,
pulando a ponta do pão pullman,
sentindo o baque da privada gelada,
perguntando quanto está o metro
daquela corda de nylon, trepando
no carro, empurrando o filho
no balanço com uma mão
e na outra equilibrando
a lata e o cigarro, agora mesmo
alguém deve estar voltando,
alguém deve estar indo,
alguém deve estar gritando feito um louco
para um outro alguém
que não deve estar ouvindo.

Agora mesmo alguém
pode estar encontrando sem querer
o que há muito já nem era procurado,
alguém no quinto sono
deve estar virando para o outro lado,
alguém, agora mesmo, no café da manhã
deve estar pensando em outras coisas
enquanto a vista displicentemente lê
os ingredientes do Toddy.





robert creeley band

Monga, a mulher-gorila:
na dúvida, rindo da Vida; 
aqui, grudada no corpo,
como uma calça jeans
encharcada de chuva – 
A preparação do salto
na cabeça do cervo morto. 

A musa fatiada na véspera
do mágico – E o jeito encantador
com que a executiva
mexe o canudo
no copo de suco.

Na quermesse dos sentidos,
onde a noite troca de pele
com o dia – O céu esfolado,
anjos em velocípedes – 
A esfirra que sobra 
na lanchonete que fecha – 
Onde o espanto
lustra seus rifles.





O livro é composto por 31 poemas, com prefácio de Angélica Freitas (jornalista e poeta). O que esse livro tem de especial? A gente se lê nele, há uma identificação com o Eu poético, então há emoção (das mais variadas). Os poemas são escritos com bom gosto, numa linguagem atual, mas sem ser vulgar. Não vou fazer análise estilística do poema, só vou dar uma amostra de uns versos de “Espantalho descarado” (p. 13), o cuidado na escolha das palavras, a  rima, o jogo de palavras, a troca de “estante” por “instante”,  brincadeira semântica perfeita!

ando assim
tipo um erro flácido ambulante
sem êxito, hesitante
disco riscado
fora de catálogo
no pó do instante.

Abaixo, um poema conceitual, concreto, visual, que pode ser lido de várias maneiras, palavras convulsas, aparentemente desconectadas, mas que são carregadas de sentido numa forma de apresentação fragmentada, própria dos nossos tempos, um grito, “Eletrodos de Eros” (p. 37):

 


O ruído dos dias e dos pensamentos. A contradição do ser humano, a descoberta das fragilidades, como no poema “Parmegiana Song” (p. 47), Me sofistico, desvendo os nós/ Do meu próprio avesso.



Fora os já citados, outros preferidos: “Buquê de presságios” (p. 11), “Fissura” (p. 63) e   “Guardando a tralha” (p. 53): Há um deus maluco embaralhando as cartas.



Montenegro, Marcelo. Orfanato portátil. Anna Blume, 2º edição, São Paulo, 2012. 76 páginas




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