miércoles, 17 de septiembre de 2014

OLINDA BEJA [13.359] Poeta de Santo Tomé y Príncipe


Olinda Beja

Olinda nace en Guadalupe (Santo Tomé y  Príncipe) en 1946. 

Siendo muy niña deja las islas y llega a Portugal a las tierras frías "da Beira Alta". 

Un día decide volver le llama el sonido del ossobó, los ríos caudalosos, las aves exóticas. Derrama entonces su ausencia en palabras sentidas llenando libros donde va mitigando una sed antigua. 

Y ya del otro lado, también añora el Portugal que la vio crecer. 

Es licenciada en Letras por la Universidad de Porto y tiene un Diploma Superior de Hautes Études por la Alliance Française. Además de escritora, Olinda Beja es docente y becaria del Centro Nacional de Cultura. Actualmente es profesora de Lengua y Cultura Portuguesa en Lausanee, Suiza, donde vive. 

Obras publicadas: 

Bô tendê? (poemas) 2ª Ed. – C.M Aveiro, 1992; Leve, leve (poemas) 2ª Ed. C.M. Aveiro, 1993; 15 Dias de regresso (novela) 3ª ed. – Pé-de-pag. Editores, 1994; No país do tchiloli (poemas) C. M. Aveiro, 1996; A pedra de Villa Nova (novela), Palimage Editores, 1999; Pingos de chuva (Cuento) Palimage Editores, 2000; Quebra-mar (poemas), Palimage Editores, 2001; Água crioula (poemas), Pé–de-página Editores, 2002; A ilha de Izunari (Cuento), S.T.P. – Instituto Camões, 2003; Pé-de perfume (Cuentos), Bolsa de Criação Literária, 2ª Ed, 2004; Aromas de cajamanga (Poemas), Editora Escrituras, San Pablo, 2009; O Cruzeiro do sul (poemas), Edición bilingüe de Editorial El Taller del Poeta, Pontevedra, 2011; Obras no prelo: Estórias da Gravana (Cuentos), Prémio Bolsa de Criação Literária, año 2008.


EN LA SOMBRA DEL OKÁ

en la sombra del oká reposarán mis días atados en silencio y en penumbra
será allí mi última casa, mi pájaro de fuego anclado en mis límpidos huesos
dispersos huesos alrededor del corazón de tu tronco
como algas que pernoctan en arenales parduzcos
allí se romperá la seda de las mañanas de los muros blancos de las casas de Guadalupe
como ropa de lavandera a orillas del Iô Grande
y el lento fluir de las horas disipará el olor de la noche en mi regazo
mi tallo de guayaba, mi hoja de malimboque
no habrá más sombras en mis sueños
el viejo ôká ha de proteger mis trayectos con su manto en verde
y rosa púrpura
allí nadie más se atreverá a negarme el piso
a negarme la matria, el humus materno dulce y caliente y caliente y húmedo
el catre donde siempre estiré mi poesía y mi pena y mi sed
tus ramos son fuertes y alejarán a buitres, halcones, hienas
tu fama de hechizo atravesará la noche y solo la noche responderá por mi
en la sombra del oká reposarán mis versos hechos tierra y mar y sal
y conchitas de playa
y apenas a los simples se les permitirá leerlos
sentados en el viejo asiento
que desagua en tu regazo


II

alrededor del oká se dibujará el itinerario
la corriente del corazón frágil de los hibiscos
los aromas que embobecen la poesía y a los poetas y se diluirán
en los murmullos que apenas el viento traduce y comprende
tendré paz en la sombra del oká
en la claridad de los campos ondeantes de hierba y lemba-lemba
campos que mi abuela plantó y desbrozó y cosechó y repartió
en las orillas de estos campos han de pernoctar las aves
y con su contradanza guiarán mis versos hasta el balcón del tiempo
mi balcón de luz inclinado en los cocotales de Porto Alegre
mi balcón donde resuenan como arrebato de niño mis pasos primevos
mis historias vividas entre Batepá y Guadalupe y Molembu
y Uba Flor


III

tendrás en tu vientre mi último poema
mi salada memoria hecha con puertos y leños de canoas
mis fantasmas de la nada resecados en tus siglos
puedes venir a buscarme,
he aquí la casa donde respiro y me duermo
donde presiento la orla de nuestras insularidades
atraviesa el libro
atraviesa el libro y desata mi mirada
y mi grito y mi errancia y mi dolor
extiéndeme tus ramos, tu sombra...
largo es el río, largo y empedrado,
mayor, mucho mayor... el mar...


À SOMBRA DO OKÁ

I

à sombra do oká repousarão meus dias atados em silêncio e em penumbra
será ali minha última casa, meu pássaro de fogo ancorado em meus límpidos ossos
dispersos ossos ao redor do coração do teu tronco
como algas que pernoitam em areais pardacentos
ali romperá a seda das manhãs dos muros brancos das casas de Guadalupe
como roupa de lavadeira nas margens do Iô Grande
e o lento fluir das horas dissipará o odor da noite em meu regaço
meu caule de goiaba, minha folha de malimboque
não haverá mais sombras nos meus sonhos
o velho ôká há-de proteger minhas estradas com seu manto de verde
e rosa púrpura
ali ninguém mais se atreverá a negar-me o chão
a negar-me a mátria, o húmus materno doce e quente e quente e húmido
o catre onde sempre estirei meu poema e minha mágoa e minha sede
teus ramos serão fortes e afastarão abutres, falcões, hienas
tua fama de feitiço atravessará a noite e só a noite responderá por mim
à sombra do oká repousarão meus versos feitos terra e mar e sal
e conchinhas da praia
e apenas aos simples será permitido lê-los
sentados no velho banco
que desagua no teu colo


II

ao redor do oká se desenhará o itinerário
a correnteza do coração frágil dos hibiscus
os aromas que entontecem a poesia e os poetas e se irão diluindo
nos murmúrios que só o vento traduz e compreende
ficarei em paz à sombra do oká
na claridade dos campos ondeantes de capim e lemba-lemba
campos que minha avó plantou e capinou e colheu e repartiu
nas margens desses campos hão-de pernoitar as aves
e na sua contradança guiarão meus versos até à varanda do tempo
minha varanda de luz inclinada nos coqueirais de Porto Alegre
minha varanda onde ressoam como embalo de criança meus passos primevos
minhas histórias vividas entre Batepá e Guadalupe e Molembu
e Uba Flor


III

terás em teu ventre meu último poema
minha salgada memória feita de cais e lenhos de canoas
meus fantasmas do nada ressequidos em teus séculos
podes vir buscar-me,
és a casa onde respiro e adormeço
onde pressinto a fímbria das nossas insularidades
atravessa o livro
atravessa o livro e desata o meu olhar
e o meu grito e a minha errância e a minha dor
estende-me teus ramos, tua sombra…
longo é o rio, longo e pedregoso,
maior, muito maior… o mar…



Ligarás tu corazón con el mío: antología de poesía africana de expresión portuguesa - Edición bilingüe que reúne poemas de Jaime Munguambe (Mozambique), Olinda Beja (Santo Tomé y Príncipe), José Craveirinha (Mozambique), Abraão Vicente (Cabo Verde) y Nuno Rebocho (Cabo Verde) traducidos en un taller coordinado por Rodrigo Arreyes con la colaboración de Damián Lamanna Guiñazú. Ilustración de cubierta de Ana Belén Barbieri. $100.


RECUERDOS PARA AVEIRO

En esa longitud del llanto 
donde el sol amarillea la piel de los hombres 
donde la sonrisa adquiere contornos de distancia 
en el azul reverdecido de las palmeras 
donde el silencio es llama al final del día 
y el mar 
se vuelca en los cuadernos de los niños 
donde vislumbro desde la ventana de mi finca 
el aspecto de las gaviotas que vuelan en tus marismas 
y huelen a sal 
y a mar 
a navíos que parten y que llega 

aquí, en la casa terrosa, rectilínea, 
oigo el graznar de los borrelhos, de los patos bravos, 
el gorjear de las golondrinas 
que nunca regresan a mi sur 

aquí alzo la copa donde exhumo la primavera 
holgazaneo en la inmensidad de la luna plateada 
y permanezco 
permanezco sentada 
a la espera de que la Ría venga a buscarme... 



Âncoras

Âncoras de esperança. Prelúdio de árias inacabadas
cantilena de mãe nos braços das úluas
tambor no terreiro de San Kánina

meu avô lusitano. Caravelas de mãos sangrando
nos quatro cantos do mundo
meu avô africano. Meu sangue mestiço
angariando esmola

meu batuque...   minha viola



Paisagem

Ternura que arrasa minha alma magoada
minha mãe lavando no rio cantando
despreocupada

Bibi minha tia que me viu nascer
fala-me em crioulo e ensina-me a ler
ensina-me os sons ensina-me as flores
ensina-me a vida ensina-me as cores:
blanco fê nê nê
zulu tê tê tê
vlêmê bá bá bá
plêtu lu lu lu

ternura que arrasa minha alma magoada
minha mãe dormindo na esteira sorrindo
despreocupada...



Dádiva

Trago-te aromas de água
frutos   gentes   pele escura
gotículas de seiva   vidas capinadas
oquês barrentos emprenhados
de pau-canela e cajamanga
trago-te aromas de corpo-alma
rituais de puíta e Danço-Congo
insónias tropicais
melodias de portos inéditos
palavras de gengibre repartido
por bocas onde escorre
abacaxi selvagem

trago-te trilhos de matos ainda 
não descobertos
especiarias   ondas de poemas

trago-te o que a minha ilha oferece



Eis-me aqui

Estou aqui
a contar-te dos caminhos que percorro
velhos   estreitos   esventrados
caminhos de sulcos e de cabras onde
nossos avós colheram pão de côdea dura
estou aqui
a contar-te dos cheiros doces e acres
dos frutos tropicais
cheiros que se foram confundindo no sangue
que se afundou em docas e mares mas emergiu
mais vermelho que o chão da nossa terra
estou aqui inteira   viva   irrequieta como pássaro
que acasala no equilíbrio de um ramo
e como tu quero ferir meus pés
no lençol de pedras que atapeta o ôbô
inundar de algas azuis o corpo reflectido
no espelho das calemas
estou aqui para escutar o vento no zinco dos casebres
e exorcisar os medos que vagueiam na linguagem do povo

estou aqui como tu
borboleta tricolor que pousa no eco das muralhas
e morre a ouvir histórias de um país calcinado.



Santomensidão

O poema está no ritmo
do nosso sangue cruzado. Na idade
da nossa santomensidão...

cheiros de terra quente
palmares de avó Sipinge
distância em distância entre
o leste e o oeste
o norte e o sul

o poema
é a única rota que deixa sulcos no cais
imensurável dos nossos atropelos



Balada

África vivia do mar e da terra
sem medo e sem guerra e sem tirania
seus cabelos crepos ao vento oferecia
livre   forte    bela
nos rios lavava   nos rios cantava...
e África corria pelo oceano
corria e dançava com frutos maduros
colhidos dos ramos que por ela havia
e em África crescia como espigas de oiro
a nossa origem

mas quis o destino que com lágrimas choradas 
se fizesse a nossa História
nos rostos decepados de risos e de abraços
contornámos o tempo
contornámos a História
calcorreámos a Europa
e mais longe até.. América do Sul ...   América do Norte
mas foi o mar só o mar
que engoliu o nosso grito imenso: KIDALÊ...Ô!!!!



Solidão

Na minha terra há um rio
que nunca vai ter ao mar
trago-o eu dentro do peito
e o meu corpo é o seu leito 
onde ele se pode espraiar

na minha terra há um pranto
de uma mãe que o não secou
escorre nas minhas veias
como o mar por entre as areias
que o oceano afundou

na minha terra há um porto
com barcos por atracar
as amarras trago-as eu
no destino que me deu
outro porto p'ra embarcar

na minha terra há um mundo
diferente deste onde estou
mas não o trago comigo
ficou para meu castigo
no canto do ôssobô...



Ilha

Tenho uma ilha por dentro de mim
cheia de corais e praias sem fim
que chora e repete na longa distância
os dias e as horas que me deu na infância
tenho as canoas correndo na alma
e bebo em orgias vinho de palma
na roça à noite varrendo o terreiro
eu falo e discuto com piadô feiticeiro
santo é o seu nome e santa é a gente 
que as ilhas povoam bendito o seu ventre
tenho uma ilha por dentro de mim
cheia de floresta   de mato   capim
que chora e repete no porto de abrigo
os dias e as horas que eu trouxe comigo





Aromas de Cajamanga
Org. e prólogo de Floriano Martins.   
São Paulo:  Escrituras, 2009.  174 p. (Coleção Ponte Velha) 


QUEM SOMOS?

O mar chama por nós, somos ilhéus!
Trazemos nas mãos sal e espuma
cantamos nas canoas
dançamos na bruma

somos pescadores-marinheiros
de marés vivas onde se escondeu
a nossa alma ignota
o nosso povo ilhéu

a nossa ilha balouça ao sabor das vagas
e traz a espraiar-se no areal da História
a voz do gandu
na nossa memória...

Somos a mestiçagem de um deus que quis mostrar
ao universo a nossa cor tisnada
resistimos à voragem do tempo
aos apelos do nada

continuaremos a plantar café cacau
e a comer por gosto fruta-pão
filhos do sol e do mato
arrancados à dor da escravidão


POR TI

Por ti espero naquela roça grande
no perfume do izaquente
no sopro do vento irrequieto
no riso da montanha misteriosa.

Por ti espero junto ao secador
que meu avô ajudou a construir
e o cheiro do cacau
invade o corpo
que acalenta a esperança
de rever-te.

Espero sentada
no caminho que vai até à Grota
e serpenteio
a estrada de Belém onde as fruteiras
espreitam o sol
e o vianteiro.

Por ti espero
na calma do poente
entre a ânsia
e o amor que me consome.

A tarde vai caindo e nostalgicamente
arrastando o meu dilúvio de ternura.

Por ti espero ainda
no breu da noite imensa
na raiva que a paixão derrama e sangra
e é o tam-tam da madrugada que me obriga
a apagar da memória
a tua imagem


RAÍZES

Há rumores de mil cores enfeitando o espaço
de gorjeios infantis
transportando aquele abraço de anãs juvenis
árias que perduram na mensagem
da nossa voz e da nossa imagem.

São rumores de tambores
repercutindo a esperança de olhares inquietos
toada de lembranças 
liturgia de afectos.

São rumores maternais 
presos à terra que nos diz 
que só o maior dos vendavais 
arranca da árvore a raiz.


NEGBA

Passas dengosa 
perfumosa
exibindo olhares lascivos

às multidões do sexo. 
Balouças 
a flor de lótus
que escondes no teu corpo 
por entre a garridez 
de tecidos virginais
e vais
deixando pólen
gostoso
africanoso
em detalhes colíricos
de afectuosas manhãs


ÉBANO

Noite sem lua no deserto que comprime 
a exatidão das coisas
paradoxo ambíguo de solidão estática do astro 
         inigualável

noite de breu no areal sem fim 
do eterno além-fronteira
onde o nada vive acorrentado à esfinge 
da nossa escuridão

flutuam estrelas mas a lua 
não vem na mesma rota 
das quimeras
escondeu o rosto na lagoa 
onde perpétuo repousa 
o despertar inviolável 
da nossa cor de ébano


GERMINAL

Ó minha ilha queimada pelo sol
pelas lágrimas do vento que escorreram
das escarpas e das vidas de teus filhos

em ti repousam as cinzas das esperanças
que outrora viveram no leito de teus rios 
Malanza, Manuel Jorge, Contador, Cauê...

Em ti germinam vidas repassadas 
de lua e sol no cais do sofrimento 
que as âncoras da vida vão soltando!

Ó minha ilha adocicada pela chuva
lacrimejante e pura batendo na sanzala 
de todos os ilhéus sequiosos de amanhãs.








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