martes, 1 de mayo de 2012

6615.- MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA



Maria do Rosário Pedreira
Nacida en Lisboa en 1959. Poeta, narradora y autora de literatura infantil.
Trabaja en la editorial Quidnovi, tras haber pasado por Temas & Debates. Licenciada en Línguas e Literaturas Modernas, especialidad de Estudos Franceses e Ingleses, por la Universidade de Lisboa (1981), fue también profesora de Portugués y Francés (durante cinco años), actividad que la influenció decisivamente a la hora de escribir para un público juvenil. Trabajó como coordinadora de los servicios editoriales de Gradiva, fue directora de publicaciones de la Sociedad Portugal-Frankfurt 97 y editora de los catálogos oficiales temáticos de la Expo '98.

Como escritora ha sido distinguida con varios premios literarios y tiene publicados trabajos de ficción, poesía, ensayo, artículos y literatura juvenil, procurando en este último género transmitir valores humanos y culturales.

Obra publicada: Alguns Homens, Duas Mulheres e Eu (1993), A Casa e o Cheiro dos Livros (1996), O Canto do Vento nos Ciprestes, Nenhum Nome Depois, O Clube das Chaves (co-autora), Detective Maravilhas, A Ilha do Paraíso y A Biblioteca do Avô.





NENHUM NOME DEPOIS

Hay ahora un dolor que se posa en las palabras.
No lo menciones: un nombre basta para
partir el corazón. Si me olvidaste entre
un libro y otro, finge que no lo sé;
despídete de mí como una farola antigua,
deja que tu sombra sea mi único paisaje.
.
Traducción de Marta López Vilar 




De
 Nenhum Nome Depois.
2ª. Ed. Lisboa: Gótica, 2005.

Acordo com o teu nome nos
meus lábios — amargo beijo

esse que o tempo dá sem
aviso a quem não esquece. 



I  

OS NOMES INÚTEIS
(excertos)

Diz-me o teu nome — agora, que perdi
quase tudo, um nome pode ser o princípio
de alguma coisa. Escreve-o na minha mão

com os teus dedos — como as poeiras se
escrevem, irrequietas, nos caminhos e os
lobos mancham o lençol da neve com os
sinais da sua fome. Sopra-mo no ouvido,

como a levares as palavras de um livro para
dentro de outro — assim conquista o vento
o tímpano das grutas e entre o bafo do verão
na casa fria. E, antes de partires, pousa-o

nos meus lábios devagar: é um poema
açucarado que se derrete na boca e arde
como a primeira menta da infância.

Ninguém esquece um corpo que teve
nos braços um segundo — um nome sim. 

   





Não  digas ao que vens. Deixa-me
adivinhar pelo pó nos teus cabelos
que vento te mandou. É longe a
tua casa? Dou-te a minha: leio nos

teus olhos o cansaço do dia que te
venceu; e, no teu rosto, as sombras
contam-me o rosto da viagem. Anda,

vem repousar os martírios da estrada
nas curvas do meu corpo — é um
destino sem dor e sem memória. Tens

sede? Sobra da tarde apenas uma
fatia de laranja — morde-a na minha
boca sem pedires. Não, não me digas
quem és nem ao que vens. Decido eu.





III

OS NOMES DE FAMÍLIA
(Excertos)
         
Saio da cama pela fenda do lençol e
fecho-a sobre ti. Toco o chão ao de
leve, como uma ave pousa na pele
das ondas. Visto-me às escuras — tão

mais discreta a blusa do avesso, a saia
tão distraída nas costuras. Vou
para a cozinha de sapatos na mão e

escrevo-te um bilhete: deixei-te um
beijo sobre a tua almofada antes
de sári. Não preciso assinar.






De
A Casa e o Cheiro dos Livros
2ª. Ed. Lisboa: Gótica, 2007.



Antes de um lugar há o seu nome. É ainda
a viagem até ele, que é um outro lugar
mais descontínuo e inominável.

Lembro-me

do quadriculado verde das colinas,
do sol entretido pelos telhado ao longe,
dos rebanhos empurrados nos carreiros,
de um cão pequeno que se atreveu à estrada.

Íamos ou vínhamos?







Depois de tudo, fica  a lembrança dos lugares e
dos seus nomes; dos quartos virados a poente
onde as imagens do rio nunca se repetem nas janelas
e todos os enredos são consentidos sobre as camas.

Ao fundo, havia um armário de madeira com espelho
onde as nossas roupas trocavam de perfume
para que os dias se vestissem sempre melhor.
E, sobre a cômoda, num espelho mais antigo,
a tarde reflectia algumas das alegrias da infância.

Não era o quarto de nenhum de nós,
mas a ele regressávamos sempre com a pressa
de quem anseia os cheiros quentes e antigos
da casa conhecida; como quem espera ser aguardado.

Pressenti, porém, que não era eu quem aguardavas:
uma noite, pedi-te mais um cobertor em vez de um abraço.







Não voltei a esse corpo; e não sei
se aqueles que o vestiram antes e depois
de mim souberam nele o verdadeiro calor
e lhe conheceram os perigos, os labirintos,
as pequenas feridas escondidas. Não voltarei
provavelmente a sentir a respiração
palpitante desse corpo, desse lugar onde as ondas
rebentavam sempre crespas junto do peito, do meu peito
também, às vezes.

Uma noite outro corpo virá lembrar essa maresia,
o cheiro do alecrim bruscamente arrancado à falésia.
E eu ficarei de vigília para ter a certeza de quem me recolheu,
porque os cheiros tomam os lugares parecidos, confundíveis.

Quando a manhã me deixar de novo sozinha no meu quarto
trocarei os lençóis da cama por outros, mais limpos.





De
O CANTO DO VENTO NOS CIPRESTES
Organização Carlos Nejar
São Paulo: Escrituras, 2008.  
(Coleção Ponte Velha)


Se terminar este poema, partirás. Depois da
mordedura vá do meu silêncio e das pedras
que te atirei ao coração, a poesia é a última
coincidência que nos une. Enquanto escrevo

este poema, a mesma neblina que impede a
memória límpida dos sonhos e confunde os
navios ao retalharem um mar desconhecido

está dentro dos meus olhos — porque é difícil
olhar para ti neste preciso instante sabendo que
não estarias aqui se eu não escrevesse. E eu, que

continuo a amar-te em surdina com essa inércia
sóbria das montanhas, ofereço-te palavras, e não
beijos, porque o poema é o único refúgio onde
podemos repetir o lume dos antigos encontros.

Mas agora pedes-me que pare, que fique por aqui,
que apenas escreva até ao fim mais esta página
(que, como as outras, será somente tua — esse

beijo que já não desejas dos meus lábios). E eu, que
aprendi tudo sobre as despedidas porque a saudade
nos faz adultos para sempre, sei que te perderei

em qualquer caso: se terminar o poema, partirás;

e, no entanto, se o interromper, desvanecer-se-á
a última coincidência que nos une.




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