lunes, 13 de julio de 2015

FRANCISCO JOSÉ VIEGAS [16.555] Poeta de Portugal


Francisco José Viegas

(Nacido en Vila Nova de Foz Côa, 14 de Mayo de 1962) Portugal.
Escritor portugués, impartió clases de Literatura en las Universidades de Lisboa y Évora. Fue director de la revista Leer del Círculo de Lectores y de Gran Reportaje. Ha participado en numerosas series de TV sobre Literatura y viajes. Es autor de novelas, obras de teatro, poesía y crónicas de viajes. Sin duda se trata de uno de los más destacados pensadores de la cultura portuguesa contemporánea. En el año 2003, fue invitado a los encuentros internacionales de poesía en el Festival de Sarajevo y en el año 2005 consiguió el premio APE. 



Meia-Noite de Buenos Aires

Os bailarinos de tango vieram de Mendonza e de Santa Rosa
cada um de sua cidade. Aprenderam o tango entre lixo
e ventanias; há sempre aquele perfume nas ruas
de Buenos Aires, uma luz perigosa que nasce entre Corrientes e Dorrego,
e não desaparece com a chuva. Aprenderam o tango
nas manhãs de domingo, muito cedo, quando os turistas
perguntam pela Plaza de Mayo e seguem encostados às paredes
das velhas casas do bairro. Bandonéon e fuga, aço puro,
contrabaixo, piano forte, aguarelas, dança no meio do fogo,
escondida da luz: eles aprendem com as memórias,
com os falhados, os mortos, os músicos que atravessaram
os átrios, os prédios cobertos de pó, as praças enegrecidas
pelos anos e pela literatura. São bailarinos de tangos;
tu compreendes a música mas só eles entendem a vingança
de cada passo, o silêncio que se faz em seu redor, a meia noite
de Buenos Aires, aquele olhar que não é já um olhar
mas uma ameaça, uma lâmina que aparece em cada mão
para dar brilho às histórias e ao seu passado. É só o tango.

                                                                      



MEDIANOCHE DE BUENOS AIRES


Los bailarines de tango llegaron de Mendoza y de Santa Rosa,
            cada uno de su ciudad. Aprendieron el tango entre basura
            y vendavales; siempre está aquel perfume en las calles
            de Buenos Aires, una luz peligrosa que nace entre Corrientes y Dorrego,
            y no desaparece con la lluvia. Aprendieron el tango
            en las mañanas de domingo, muy temprano, cuando los turistas
            preguntan por la Plaza de Mayo y siguen apoyados en las paredes
            de las viejas casas del barrio. Bandoneón y fuga, acero puro,
            contrabajo, pianoforte, acuarelas, danza en medio del fuego,
            escondida de la luz: ellos aprenden con las memorias,
            con los perdedores, los muertos, los músicos que atravesaron
            los atrios, los edificios cubiertos de polvo, las plazas ennegrecidas
            por los años y por la literatura. Son bailarines de tango;
            tú comprendes la música pero sólo ellos entienden la venganza
            de cada paso, el silencio que se forma a su alrededor, la medianoche
            de Buenos Aires, aquella mirada que ya no es una mirada
            sino una amenaza, una hoja que aparece en cada mano
            para dar brillo a las historias y a su pasado. Es sólo el tango.
           
                                                                         © Traducción: Verónica Aranda


            
O TANGO. BUENOS AIRES.

            Brigam no meio da rua. Ao passar em San Telmo,
            ao fim da manhã, vejo como brigam, corpo
            com corpo, ao som de uma música vengativa
            que comove os cegos, os que pasam, os que ficam.

        
                     
EL TANGO. BUENOS AIRES

            Pelean en medio de la calle. Al pasar por San Telmo,
            al final de la mañana, veo como pelean, cuerpo
            a cuerpo, al son de una música vengativa
            que conmueve a los ciegos, a los que pasan, a los que se quedan.
                                                                      
     © Traducción: Verónica Aranda




Se me Comovesse o Amor

Se me comovesse o amor como me comove 
a morte dos que amei, eu viveria feliz. Observo 
as figueiras, a sombra dos muros, o jasmineiro 
em que ficou gravada a tua mão, e deixo o dia 

caminhar por entre veredas, caminhos perto do rio. 
Se me comovessem os teus passos entre os outros, 
os que se perdem nas ruas, os que abandonam 
a casa e seguem o seu destino, eu saberia reconhecer 

o sinal que ninguém encontra, o medo que ninguém 
comove. Vejo-te regressar do deserto, atravessar 
os templos, iluminar as varandas, chegar tarde. 

Por isso não me procures, não me encontres, 
não me deixes, não me conheças. Dá-me apenas 
o pão, a palavra, as coisas possíveis. De longe. 

 in 'Se me Comovesse o Amor' 




As crianças adoecem no Inverno

As crianças adoecem no Inverno, 
tossem de noite, 
morres por elas nesses momentos 
em que precisam de ti. 

Vigias o seu sono, 
entregas o teu, despertas com facilidade, 
olhas uma a uma as horas que passam 
como se todas as crianças nascessem no Inverno. 


A quem darei todos os dias da minha vida

A quem darei todos os dias da minha vida? A voz que levo 
em mim impressa como o rumor dos jardins, os rebanhos 
descem pelas encostas, a neve abandona as giestas, 
uma banda de província comemora o entardecer. Tu e eu dançaremos 
como antigamente o Verão nos chamava, pelas romarias, 
e passaremos as noites em viagem. Reinventei o mundo agora, 
tu o fizeste assim, uma única vez se diz o nome que nos fez 
voar sobre as searas. A quem darei a minha vida? 
Aquilo que deixámos um no outro marcado como um fogo, 
o sobressalto, as novas palavras. O tempo demora, e volve, devagar, 
sobre si mesmo, nos pátios mais antigos. Do primeiro ao último dia, 
a quem darei todos os dias da minha vida? 

 in 'Sombras - O Medo do Inverno' 














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