martes, 20 de enero de 2015

SALOMÃO SOUSA [14.535] Poeta de Brasil


SALOMÃO SOUSA

Nacido en Silvânia, Brasil en 1952.

Obras publicadas

A moenda dos dias, Ed. Coordenada, Distrito Federal, 1979.
A moenda dos dias/O susto de viver, convênio INL, Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1980.
Falo, Thesaurus Editora, Distrito Federal, 1986.
Criação de lodo, edição do autor, Distrito Federal, 1993.
Caderno de desapontamentos, edição do autor, Distrito Federal, 1994.
Chuço, zine xerocopiado (19 números até 1999)
Estoque de relâmpagos, prêmio Bolsa Brasília de Produção Literária, 2002.
Ruínas ao sol, Prêmio Goyaz de Poesia, Ed. 7Letras, 2006;
Safra quebrada (reunião dos livros anteriores e de dois inéditos), publicado com recursos do FAC, 2007;
Momento crítico, de textos críticos, crônicas e aforismos, Brasília: Thesaurus Editora/FAC Fundo de Apoio à Cultura, 2008.
Vagem de vidro, poesia, Brasília: Thesaurus Editora, 2013.





Tradução de Silvia Long-ohni



Muchas cosas paralelas
y yo una de ellas
Tal vez fuese el canario
la mirilla
y en tanto no me abro
y en tanto no me amarillo





Muitas coisas paralelas
e eu uma delas
Talvez eu fosse o canário
a janela
e tanto não me abro
e tanto não me amarelo






●•
Enciende las listas pajas   
oro sólido se escurre por las tejas
y se yergue el desengaño en otras playas
imagina campos y nubes y oasis
y deja fallas grietas falsas 
y vete a anochecer en otras florestas
en bahías sin ancladero  a los cascos  a  las naves 
y después de alegrar charcas con otras lunas
de lucir espantajos en otras tocas 
la tempestad retoma los desiertos
amenaza mis torcidas baratijas         
y vuelve sin los corales del reposo 
en mis días de traperos lodazales 
no barre el alquitrán de mis orillas
despaja el amor donde el sol trabaja




Acende as prontas palhas
ouro sólido escorre pelas calhas
e ergue-se o desengano em outras praias
pensa campos e nuvens e oásis
e deixa falhas frestas faias
e vai anoitecer em outras florestas
em baías sem ancoradouro às cascas às naus
e depois de alegrar poças com outras luas
de brilhar espantalhos em outras touças
a tempestade retorna aos desertos
ameaça minhas tortas tralhas
e volta sem os corais do repouso
em meus dias de trapaças lodaçais
não varre o alcatrão de meus beirais
espalha o amor onde o sol trabalha.





●•
Se olvidó del vértice de unos hombros,      
de la plata de unos umbrales,
de la posible palmatoria en la hora del crimen,
de las algas ya en aguas claras.

No se acordó del instante de inclinar
la palabra – la palabra que libera al esclavo.
Se olvidó de lanzar otra escupida
en la travesía de unos umbrales.

Abandonó el soplo
encontró florida la caléndula.
Frente al qué decir                     
se dejó esclava en las escarpas.

Queden incompletas las fisuras del habla.




Esqueceu o vértice de uns ombros,
da prata de uns umbrais. 
Da possível palmatória na hora do crime,
das algas já em águas claras.

Não se lembrou do instante de inclinar
a palavra — a palavra que liberta o escravo.
Esqueceu de enfiar outra saliva
na travessia de uns umbrais.

Abandonou o sopro
se achou florida a calêndula.
Diante do que dizer,
deixou-se escrava nas escarpas.

Fiquem incompletas a fendas da fala.




  
●•
Viajé. Vi hombres en el lujo.
Vi niños en la lija
y en la lija tropecé.
Ropas lavadas cercanas a mis pasos
y lo que encubría húmeda
podía ser pasto, piedra o trébol.
En las seis mañanas
las ropas extendidas en las calzadas.

Viajé. Vi parejas que casi se abrazaban.
Los siete puentes, algunos de hierro forjado  
en el extranjero.
Vi mujeres a solas con los hijos
sintiéndose alienígenas.
No pude ver a los ausentes compañeros.
No pude ver las monjas recogidas
y el tambor para ensayar el próximo frevo* 

Viajé. Sentí este olor a hombre.
Heces. Este olor eyaculado.
Vestido de pasado
me comí mis siete colaciones
bebí mis siete cálices.
No estuve próximo al arma de tiro.
Al muerto no llevé luto ni mortaja.

Viajé. Vi y palpé.
Y si creí fue por la flor agreste.
Fue por el temblor de las luces sobre las heces.  




Viajei. Vi homens no luxo
Vi crianças no lixo
e no lixo tropecei
Roupas lavadas próximas aos meus passos
e o que encobria úmida
podia ser relva, pedra ou trevo
Nas seis manhãs
as roupas estendidas nas calçadas

Viajei. Vi casais que quase se abraçavam
As sete pontes, algumas de ferro recortado
no estrangeiro
Vi mulheres a sós com os filhos
se sentindo alienígenas
Não pude ver os ausentes companheiros
Não pude ver as freiras recolhidas
e a zabumba a ensaiar o próximo frevo

Viajei. Senti este cheiro de homem
Fezes. Este cheiro ejaculado.
Vestido de passado
comi as minhas sete refeições
bebi os meus sete cálices
Não estive próximo à arma do tiro
Ao morto não levei luto nem mortalha

Viajei. Vi e apalpei
E se acreditei foi pela flor agreste
Foi pelo tremeluzir das luzes sobre as fezes





●•
¿Y si todos nos decidiésemos por la ausencia?
Si quedásemos quietos sin ningún verso
los peces secos
olvidados en la bandeja.

Si quedásemos con las nalgas enmohecidas
hierba así tostando
sin que viesen los alientos de las bocas
tierras fértiles sin lluvia que las aflojen.

Si fuésemos las historias perdidas
si no viene quien las oiga
y otro que nunca supo 
del encuentro que acarreamos tan cerca. 

Si estuviésemos donde ningún héroe aparece
en las esquinas donde los hombres
no saben cual será la conversación.
Seremos la luna dispersa
el sol que no está más en el universo.

Traba que se quiebra
y ningún rostro avanza en la grieta.
Si fuésemos lo que ríe
entre los ojos que padecen
cuando fuesen las caídas de los planetas  
de los rubíes adversos. 




E se todos decidíssemos pela ausência?
Ficássemos quietos sem nenhum verso
os peixes secos 
esquecidos na travessa

Ficássemos com as nádegas mofadas
capim assim torrando
sem que viessem os bafos das bocas
terras férteis sem chuva que as amoleçam

Fôssemos as histórias perdidas
se não vêm quem as ouça
e outro que nunca soube
do encontro que trouxemos tão perto

Estivéssemos onde nenhum herói aparece
nas esquinas onde os homens 
não sabem qual será a conversa
Sermos a lua dispersa
o sol que não está mais no universo

Trava que se quebra 
e nenhum rosto avança na fresta
Fôssemos o que ria
entre os olhos que padecem
quando fossem as quedas dos planetas
dos rubis adversos




ZAFRAS

En el primer año de casado
La roza dio maravillas
Dio lo que se plantó 
y lo que no se plantó.
El arroz, la taioba, el joá en la rozada.

Y así en los siguientes cinco años
hasta que el quinto hijo nació.
De ahí la roza se alejó                  
hacia los matos más extensos.

Cuando las piernas canilludas de los hijos 
enflaquecieron
y quedaron al descubierto,
el mato que da de comer
acabó.
Se tuvo que reiterar en la tierra de antes.

La plantación para el noveno hijo
no prosperó.




SAFRAS

No primeiro ano de casado,
a roça deu maravilhas.
Deu o que plantou
e o que não plantou.
O arroz, a taioba, o joá na queimada.

E assim nos próximos cinco anos
até que o quinto filho nasceu.
Daí a roça se afastou
para os matos de mais longe.

Quando os cambitos dos filhos
deram para afinar
e ficar descobertos,
o mato de dar de comer
acabou.
Teve que repetir na terra de antes.

A plantação para o nono filho
não vingou.




Ela espera com as verbenas boas...

Ela espera com as verbenas boas
e em repouso todos guerreiros mortos
A luta esqueceu de bater na porta
e buscavam guerreiros de bom garbo 
as chamas das verbenas sobre as águas
Estariam após as portas do sol 
Schiller ameaçou tocá-las em Jena
e antes que as alcançasse houve a cegueira
Erguiam pontes e nelas se agarravam
e iam e se perdiam fundos nos lamaçais
Eram milhões para depois do gelo

E ao lado dos mortos fervem as hienas 
vorazes nas vísceras dos guerreiros
e jamais se juncarão de verbenas




E é o veneno que cresce no silêncio...

E é o veneno que cresce no silêncio 
E é até o broto da lágrima 
que está seco dentro de uma rocha 
E é um vazio como um grão de ouro 
e é uma tortura como o sentir de um coice 
A mão esquecida sobre a bainha 
e não há um corte para esvaziar o escarro 
Há o pressentir de um estouro 
e há um campo cheio de quietos touros 
e não há uma queda onde quebrar a cara 
e não há uma vara para escapulir da tara 
Sem um gorjeio sequer num vento livre 
e tudo é vendaval sem pedir ajuda 
Não há o corte fino de uma lâmina 
sobre o desejo que escurece 
a passagem que vai dar ao ânimo 
Não era para ficar uma pétala 
Não era para bater um coice 
E caem alimárias e crescem galhos 
Fundição num domínio de pedra 
e não há o bafejar do vento 
e não há o entranhar de uma gota 
e não há o pulsar de um malho 
Irá inocular e será inócuo 
Será sem sentido e falhas puras 
O bote cairá numa pedra 
e o brilho será jacinto murcho



Ser um deus num céu de terra...

Ser um deus num céu de terra 
Sereno na serra sereno como as águas 
deus trem sobre os trilhos 
Ser simplesmente na terra 
um deus penumbra um deus sombra 
Sombra sem nenhuma fome 
sobre as nádegas sobre as águas 
Após as nádegas após as águas 
são os umbigos que estarão belos 
Serão flores serão cogumelos 
Como será feliz ser um deus 
Este deus terra este deus novilho 
só para poder comê-los 
como umbigos como cogumelos 

Após os umbigos após os cogumelos 
é a terra que se mostrará bela 
Será talhos e será trem e também trilhos 
Como será ser feliz ser o deus viagem 
Este deus fome este deus navalha 
só para poder partir e poder comê-la 
como talhos como terra 




Mede o universo verde...

Mede o universo verde 
a lacraia no caule da piteira 
Queimará seu dia de sol 
Passará pela última lança 
com as cem patas ondeadas 
Não sou nem mesmo o eunuco 
cuidando das fibras 
das damas verdes 
Não sou nem mesmo a pata 
fritando dentro da trempe 
Chegarei a esmo à ultima lança 
e não terei atravessado 
o cabo das tormentas 
Meço o universo 
e não sou nem mesmo o louco 




Nula fístula na língua...

Nula fístula na língua 
Nulos lambris de nylon 
Nulos pára-choques 
pára-brisas parangolés 
Nulo curral de lama 
Desentupir nas bisnagas 
e nas agulhas 
os debruns 
de enfeitar os nulos trapos 
Desentupir nas tetas 
o leite para as nulas goelas 

Desfincar as estacas 
que estancam as bocas dos sapos 
Admirar ser a nula lacraia 
debaixo do cavaco 
A nula tartaruga demaiada 
com a nula areia no sovaco



Vagem de vidro.  Brasília: Thesaurus, 2013.   104 p.   11X20 cm.  ISBN 978-85-S409-0167-4    


Aqui jaz o poema
que não se quis
Insistiu avaros nadas
horas turvas horas turvas
Implorou sessões de prazer
com crostas secas
ruibarbos de febre
Arrancou do poeta
o escudo da legião dos 300
Foi inútil insistir
com coroas, pés quebrados
meias de fina lã
Aqui jaz o poema
que não se quis






Em meio ao espelhamento das escolhas
acontecerá o excesso de luz a ressecar as ervas,
ideias que se ligam ao soco, às intrigas,
o cervo a assistir a velocidade dos bêbados.

Depois de o armamento transbordar do bornal,
utensílios dão para descarnar as faces,
cobrar nivelamento de nervuras.
O tratado rasgado, a volúpia dos relatos.
A renegada palavra que se precipita,
a reabilitada confiança de volta ao conflito.

No momento que temos a satisfação do pássaro,
do estrangeiro na sacada a traquinar feliz. Feliz.
Caem, não só nesses momentos, também de Dante,
os nossos crestados pés, o odor do filho,
o volume das polpas no branco, no brim dos seios,
caem as pálpebras de nossa mãe, o pó de nossas vigas.
Com o movimento dos remos, os comandantes.
A esquadra perfilada no porto dos encalhes.

Ah! a luz que resseca as ervas não perdoa o corvo;
invade os limites, danifica as trevas!





Deixa um retrato
um pedaço de angústia
o desejo
a cola rachada da lombada

Deixa uma fresta
das janelas do corpo
um pedaço da paisagem
onde fixaste um foco

Deixa uma fatia
de limão sobre a ferida
uma brecha de meu corpo
a rasgar-se em tua boca

Deixa uma marca seca
na minha roupa
um vazio
na minha imaginação





SAFRA QUEBRADA

O livro reúne a produção de Salomão Sousa nos últimos 30 anos e mais dois livros inéditos. Edição da Dupligráfica, com apoio do FAC/DF 2007, incluindo fotos de Robson Corrêa de Araújo. Aqui publicamos um dos poemas do livro:


Não a virada da esquina, do barco
a água a arrancar os caibros, as janelas
a ferrugem a apodrecer os cercos do tédio
Falta-nos a emboscada
a borduna nas têmporas
as esporas nas vísceras da vontade
Falta-nos alguma derrota
o descomedimento, a rota das Índias
a que apontar a boca da espingarda
e não há a caça, e se não há poldro
a beldroega entre as leiras
Passam alimárias e não montamos
Passam as asas e passam as viagens
E nenhuma ranhura no casco!
E ficamos em nenhuma borda de abismo
Só esse lodo, essa lesma
as futricas, os processos renumerados
exames refeitos, glicose, colesterol
Resta invejar quem contratou
quem vai dar o próximo passo
quem irá gastar o resto de pólvora
derramar a tina do desejo
Nem a desventura de estar em campo
perder o jogo, e sair na vaia

Não há cordoalha para puxar
Lodo para afundar até os olhos
Não há Tróia
para impedir de ser ateada em fogo




A obra tem uma unidade construtiva, é um livro-poema. Começa com um tom híbrido de épico e lírico — "Depois das derrotas, dos desterros, das ruínas" — e se fecha com o emblemático "Agora vou falar das ilhas de Cetim".
Não é um leitura fácil, muito menos óbvia, por causa da linguagem densa e das desavisadas associações de imagens e de ideias, da ausência de pontuação, do automatismo verbal que vai anunciando mas não necessariamente enunciando, numa espécie de neobarroco consciente.  Em tempo: recebeu um prêmio no Festival de Poesia de Goyaz 2006. ANTONIO MIRANDA



FUI SÓ ERRAR EM DESTERROS
só ao mar me soçobrar
de rastro entre espinhos na margaça
as partes podres dos sobros
hordas de amantes aos bagaços
Dizimei-me nos fogos de acreditar
seriam exatas as respostas
nas tormentas inúteis as barcaças
também não retirei as grades
não lancei raios nos escuros
nem flexíveis fiz as ferragens
ossos esses remos sem braços
não deixei o centro o oco todo
não parti para apalpar as luas
e acreditar nos sonhos sem desgraças
ir à caravana dos convidados
aos milagres das certas graças

Desembarquei-me das incertezas?
não fui o varrido, a parte irada?
mas não ser no cerne a certa traça
mas não ser a mão que traça a retirada





AÍ ACOLHES O SOL
as hastes das chuvas
a sanha dos pássaros
os ninhos férteis das aranhas

bem fazes tu
— montanha de Natividade
que não deixas lugar
para nenhuma dúvida
em tuas entranhas!






A TEMPESTADE ESPRAIA CORPOS EM DESMAIO
acende as prontas palhas
ouro sólido escorre pelas calhas
e ergue-se o desengano em outras praias
pensa campos e nuvens e oásis
e deixa falhas frestas faias
e vai anoitecer em outras florestas
em baías sem ancoradouro às cascas às naus
e depois de alegrar poças com outras luas
de brilhar espantalhos em outras touças
a tempestade retorna aos desertos
ameaça minhas tortas tralhas
e volta sem os corais do repouso
em meus dias de trapaças lodaçais
não varre o alcatrão de meus beirais
espalha o amor onde o sol trabalha






E ESTE DARDO DA DÚVIDA
e esta lâmina da dor
e esta noite sem lírio

lanham minhas nádegas
desequilibram minha astúcia
e os poços das ausências

estou perdido das constelações
e perseguido pelo deserto
dos famintos cascavéis

só uma lua sem a flor das águas
arrancará do frio as minhas raízes
derramará mares nos meus vazios

só uma lua fora de estação
fora de órbita de todo planeta
vai me arrancar dos dentes do martírio







VOLTARÁS INTEIRA DAS NAVEGAÇÕES
e dos cortes da madeira
Terás de lutar
e terás de vencer
Não irás ver
aquele que vem sem armas
mais pobre que a mula
sem pastagens

E nada te impedirá a passagem
As flechas cairão sobre os mortos
Passarás sobre os trêmulos troncos
e não te arrojarão
em nenhum rio ilegítimo
Se houver quedas
serão de jacintos secos
e em terrenos desgastados
serão espraiamentos

Não ficarás doente
Pela cegueira
não ficarás cercada
Ainda que te estoquem
a angústia e o prazer
vais te sentir absolta

Trarás outras madeiras
para os cercos do tédio
Voltarás com desconfortos
Quem vem das vitórias
volta pisando em mortos






Poemas inéditos 

FALA UM ASTRO A NÓS
Corveta flava
de mil nós
desfaço a âncora
de não sermos sós

Caminho em teus contornos
os prados todos
pistilos estames
sem que possa haver lodo

Use a gaita
em que te danço
Uso o fruto
com que me adornas

Nascerá jaspe nascerá húmus
na tocata de cada dedo
Será mina será morno
em cada apelo

Sou a fúria a baía
a que te amarras
Meu infinito
em que astro caio


Deixo para os dias de esquecer
os pés quebrados os acertos do inimigo
Deixo as intrigas fora da cartilha
os galhos podres o saco de formigas

Busco para os dias de encontrar
os saltos do touro o sangue da ferida
quem entende de desarmar as traças
e de fazer viagens nas minhas superfícies

São lombadas, treliças e feitiços
Se for água basta os pés da leveza
Se for o fogo ainda deixar as naus de cortiça 
Se tem de ser o futuro seja mais que abstrair

Não embarcar o domínio das nódoas
Só as ramagens dos touros nas pastagens
as caras dos remos nas superfícies
Já amacio os braços de consentir

Ainda que não venha nenhum barco
e bruma alguma traga a carga de lenha
Ainda que o barqueiro venha louco
e todo o aço da certeza afundará
Ainda que o vento atormente com fúria
e vá a madeira polida afundar-se
Ainda que a carga seja a lâmina
com o colo certo de degolar
Ainda que na porta anunciem
que a florada do dia irá murchar-se
Ainda que seja um vasto mar
e a alma em deleite vá secar-se
Ainda que o mar seja uma rocha
e no deserto o coração vá navegar

Ainda assim o faroleiro acenderá



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