martes, 21 de mayo de 2013

ÉRICO NOGUEIRA [9855]



Érico Nogueira. Poeta, traductor y ensayista. Nació en Bragança Paulista, Brasil, en 1979. Es Doctor en Letras Clásicas por la Universidad de São Paulo. Es autor de los libros de poemas O Livro de Scardanelli (2008) y Dois (2010). Ha traducido dos libros: O Verdadeiro Che Guevara - e os idiotas úteis que o idolatram (2009), de Humberto Fontova e Introdução às Artes do Belo - O que é filosofar sobre a arte? (2010), de Étienne Gilson. La editorial É Realizações publicó los cuatro libros. Trabaja como traductor y profesor de lenguas y literaturas clásicas en São Paulo. Realizó estudios de doctorado en la Universidad de Roma «La Sapienza». Ha traducido textos de Teócrito, Horacio, Giacomo Leopardi, Hugo von Hofmannsthal, Durs Grünbein, entre otros. 




ÉRICO NOGUEIRA 
TRADUCIDO POR MARIO DOMÍNGUEZ PARRA


    

DEU BRANCO (EN BLANCO)






1.

É sempre assim: bater o ponto de saída / e “ufa, até que enfim” e “hoje, só amanhã” / pensar picando a mula, o cérebro fervendo / e o ego semi-cheio da mão-boba a mais; / a rua até que tá bonita: o sol se põe, / a praia é uma promessa, mas um mal-estar, / o velho mal-estar de sempre, ameaça tudo, / insiste em ser imune a tudo o que tem sal; / a voz esgrouvinhada da rabeca (não, / não é hebraico, não) pendula pelo tímpano / assim como gangorra, e um soco no nariz, / mais outro soco, “ah, dã, dã, dã – dama da noite!”; / um vento chega, tu já quase em casa, e o bosque / em frente (sempre esteve ali?) chama o teu nome, / o nome de verdade, que não tem crachá; / lá bem lá em cima a lua luz sem dar por nada, / e desse nada tu no último degrau; / um frio, enfim, a cama quente: é sempre assim.



1.

Siempre es así: fichar a la salida
y «me voy por fin» y «mañana será otro día»,
al salir cagando hostias, el cerebro ardiendo  
y el yo algo harto de meter mano y ya está;
la calle incluso tan bonita: el sol se pone, 
la playa es una promesa y una desazón,
la bella desazón habitual a todo reta,
insiste en ser inmune a lo que contiene sal;
la voz descuidada del rebab (no, 
hebreo no es) hace que el tímpano se mueva
cual columpio, y un guantazo en toda la napia, 
y otro guantazo, «¡ah, da, da, da, – dama de noche!»;
un viento surge, tú ya casi en casa, y el bosque
en frente (¿siempre estuvo allí?) dice tu nombre,
el nombre verdadero, que no tiene identidad;
allá bien lejos sobre la luz de luna sin dar 
nada a cambio, y por nada tú en el escalón final; 
frío, al final, la cama ardiente: siempre es así. 




2.

Mas que dormir, que nada, é a vida na janela, / a via-láctea e tanta estrela que confunde, / um pisca aqui, pisca acolá, pra quem quer ver; / o que é que a noite dá, por que, ninguém entende, / foi Deus que deu, sei lá, talvez, melhor de dia / quando a cabeça faz, não pensa, e o mundo é mais; / agora, já sem luz, já sem barulho, é dose,  / e a vida é menos vida – ou mais –, é dose, eu disse, / alguém se levantar, querer ir ao banheiro / e, louco pelo espelho, ter colhão de olhar; / relógio de parede, espelho, alma penada / e tudo aquilo que ataranta e me esqueci, / vem só de noite, como alguém que não quer nada, / puxar teu pé, mané, sem dó de ti: levanta, / homem, levanta e encara, vai, olha de frente; / nada é tão feio assim, tão mau nem tão terrível / quanto um singelo sol de uma segunda-feira; / o escuro é bom, protege, o escuro é teu amigo.




2.

La vida es el hueco, más que el dormir, que nada,
la vía láctea y tanta estrella que confunde,
una pizca aquí, una pizca allá, para quien quiera ver;
lo que da la noche, por qué, nadie lo entiende,
fue Dios quien dio, qué sé yo, tal vez, mejor de día
cuando la cabeza hace, no piensa, y el mundo es más;
ahora, ya sin luz, ya sin barullo, es arduo,
y la vida menos vida – o más – arduo, dices,
alguien se levanta, quiere ir al baño
e, ido por el espejo, tiene huevos de mirarse;
reloj de pared, espejo, alma penitente
y todo aquello que ataranta y me escuece
viene solo de noche, como quien nada quiere
o arrastra el pie, inepto, sin piedad de ti: en pie,
hombre, en pie, y da la cara, venga, mira de frente;
así nada es tan feo, malo ni terrible
como el sencillo sol de un lunes;
lo oscuro es bueno, protege, lo oscuro es tu amigo.




3.

Dizer “yo tengo miedo” ou “no, no puedo, gracias” / não vai salvar-te por estar em espanhol, / não vai mudar bulhufas: sim, tá sim chovendo / e tu parado aí, com tudo por fazer, / pensando – logo tu – “sou um torrão de açúcar”; / sair de casa, então, que outro remédio, e ali / na esquina “um táxi, um táxi, um táxi” é como um mantra / até que um táxi passa, “aonde?”, “aeroporto”; / “pra Roma agora”, “o próximo demora ainda, / Atenas serve?”, “agora?”, “neste mesmo instante, / embarque imediato e, ah, incondicional”, / “ah, sei, internacional”, “cada um ouve o que quer”, / (“mulher maluca”), (“otário”) “por aqui, senhor”; / aqueles versos alemães ’tão na maleta: / é só abrir e ver o mar socando a escarpa, / e aquele monte, ou aqueloutro, de coroa / de neve na cabeça, e muita uva e o brilho / da Grécia de presépio desses alemães. 



3.

El decir «yo tengo miedo» o «no, no puedo, gracias»
no te va a salvar por estar en español,
no va a cambiar un carajo: sí, sí está lloviendo
y tú estático ahí, con todo por hacer, 
pensando – justo tú – «soy un cacho de pan»;
salir de casa, entonces, qué remedio, y allí
en la esquina «un taxi, un taxi, un taxi» cual mantra
hasta que pasa uno, «¿Dónde?» «Al aeropuerto»;  
«ahora a Roma», «el próximo se retrasa aún,
¿sirve Atenas?», «¿ahora?», «en este momento
exacto, embarque inmediato y, ah, incondicional»,
«ah, vale, internacional», «cada uno oye lo que quiere», 
(«chalada»), («necio»), «por aquí, señor»;
aquellos versos alemanes están en la maleta:
es abrirla y ver el mar golpear la escarpa,
y aquel monte, o aquel otro, con aureola
de nieve en la testa y mucho encanto y el brillo
de Grecia en el establo de esos alemanes.




4.

Presépio mais bonito, visto do avião; / presépio? ah, bem, antes salão que já foi rico / – tapete azul, móveis de mogno, algum marfim –, / meio esquisito e, o que é pior, todo antiquado; / “é tanta gente que não pára de existir” / concluo, em inevitável colisão com a rua, / e nem “Tucídides... forjou obra imortal” / pode esfriar-me a cuca, não; alugo um carro, / vou dirigindo desligado das ruínas, / caindo em mim (e num buraco) já bem longe / de Atenas e a seção de estátuas telefônicas; / “eu falo grego – ao menos li todo o Cavafy; / não vai ser fácil sem estepe, sem destino, / mas eu vou ter que me virar”, ando umas horas / até topar com um telefone, e a voz humana, / caso disponha de um contrato que a sublime, / volta a ser mágica outra vez, diz “fiat lux” / e a luz já vem, ou, se na Grécia, não tão já.



4.

Establo tan bonito, a vista de pájaro;
¿establo? ah, bien, más bien sala, que ya soy rico
– paño azul, muebles de caoba, uno de marfil –,
algo exquisito y, lo que es peor, obsoleto;
«y tantos que no dejan de existir»
concluyo, en forzosa colisión con la calle,
y ni «Tucídides…forjó una obra eterna»
puede refrescarme el tarro, no; alquilo un coche,
voy conduciendo y me desentiendo de las ruinas, 
mientras desciendo en mí (en un hoyo) bien lejos ya
de Atenas y su estatuaria telefónica;
«yo hablo griego – al menos leí todo Kavafis; 
no va a ser fácil sin la estepa, sin destino,
pero voy a tener que regresar», ando unas horas
hasta dar con un teléfono, y la voz humana,
si dispone de un contrato que la enaltezca,
vuelve a ser mágica otra vez, dice «fiat lux» 
y ya viene la luz, o, si en Grecia, no tan pronto. 




5.

“Vai pra Delfos” – um sino, um martelo, sei lá, / ou um encosto, atacava sem trégua, moía / a cabeça, e “aspirina, meu Deus, por favor / aspirina”, abro o vidro vazio, fecho o vidro, / “eu tô louco”, o remédio: poesia alemã; / leio enquanto dirijo – uma noz, a palavra, / alvorece, avermelha na boca da pítia, / e do invólucro duro não dá pra escapar, / nem da hepatotomia –, tá bom, tô melhor; / sempre fico melhor perto desse alemão; / chego a Delfos; inverno; bem poucos turistas; / uns ciprestes, terreno rochoso, montanhas, / cinco meias-colunas, ou seis, muita pedra / e uma imensa vontade de ter um porquê; / “o melhor, água pura, mas ouro, de noite, / como fogo fervendo arrebata, supremo...” / – bom agouro, talvez: uma águia bem longe, / uma brisa soprando o segredo que esconde.



5.

«Va a Delfos» – una campana, un martillo, qué sé yo,
o un espectro, atacaba sin tregua, movía
la cabeza, y «Dios mío, una aspirina, por favor 
una aspirina», abro el frasco vacío, cierro el frasco,
«estoy loco», solución: poesía alemana;
conduzco y leo – nuez, la palabra,
amanece, enrojece la boca de la pitia,
y no da para evadirse del caparazón,  
ni de la incisión hepática –, vale, estoy mejor;
siempre me restablezco cerca de ese alemán; 
llego a Delfos; invierno; muy pocos turistas;
unos cipreses, terreno rocoso, montañas,
cinco o seis columnas derruidas, mucha piedra
y una inmensa voluntad de obtener un porqué;
«lo mejor, agua pura, además oro, de noche,
como fuego ardiendo arrebata, supremo…»
– un buen augurio, quizás; un águila bien grande,
una brisa que exhala el secreto que esconde.




6.

Tanta página branca, papel de primeira, / que se picha, profana, polui com detrito; / “é um rapaz de talento, polido, estudado, / mas não sabe o que faz com isso tudo que tem”; / nunca eu soube por que: teve tanta cidade, / com farol e colosso e mais biblioteca, / que ruiu, pegou fogo, afundou, o escambau, / e fizeram de novo: fizeram pra quê? / “pra viver, animal, é o que basta” – não é; / sabe, a mula tá viva, e ninguém quer ser mula, / e o problema é bem esse; pra cima e pra baixo / e pros lados também vou medindo a ruína, / e o segredo que escuto (ou ao menos suponho) / não comove a dureza de ser pedregulho; / hoje o homem não nasce com o signo na testa, / mas com o rabo virado pra lua; anoitece; / tomo o rumo do albergue, onde tantos cuidados / se dissolvem no odor de sabão dos lençóis.



6.

Tanta página en blanco, papel de primera,
que se critica, profana, infecta con detritos;
«es un muchacho con talento, pulido, culto,
pero no sabe qué hacer con lo que posee»;
nunca comprendí por qué: tantas ciudades hubo, 
con faros y colosos y más bibliotecas,
que cayeron, ardieron, se hundieron, o cambiaron,
ojalá se rehagan: ¿rehacerse para qué?
«cernícalo, para vivir, es suficiente» – ¿no? 
sabe, la mula vive, y nadie quiere ser mula,
y ése es el problema; por encima y por debajo 
y por los lados también voy midiendo la ruina,
y el secreto que escucho (o me imagino al menos)
no conmueve la dureza de ser pedregullo;
hoy no nace el hombre con el signo en la testa, 
sino con el rabo hacia la luna; anochece;
tomo la senda del albergue, donde tantos miedos
se disuelven en el perfume de las sábanas. 


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 http://joseanibalcamposmariodominguezparra.blogspot.com.es/

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