viernes, 27 de junio de 2014

CLÁUDIO MURILO LEAL [12.085]


CLÁUDIO MURILO LEAL 

Nacido en Río de Janeiro, Brasil en 1937. Doctor en Letras y Maestría en Literatura Brasileña UFRJ. Fue profesor de la UFRJ; Universidad de Essex, Inglaterra; de la Universidad de Toulouse-Le Mirail-, Francia; Universidad de Brasilia (1971-1979, durante el cual colaboró ​​con periódicos y diario Correio Braziliense GMT); director del "Colegio Mayor Universitario" Casa de Brasil en Madrid. Presidente del PEN Club de Brasil.

Bibliografía:

Poemas;  Poemas; Novos Poemas; Fonte; Gesto Solidário; As Doze Horas; A Rosa Prática; A Musa Alienada; Poemas de Amor; Caderno de Proust (Prêmio Nacional de Poesia do Instituto Nacional do Livro, 1981); A Velhice de Ezra Pound; O Poeta Versus Maniqueu; Escrito en la Carne; Reflets; As Quatro Estações; Catarse; As Guerras Púnicas; Treze Bilhetes Suicidas; Módulos (antologia, Sette Letras); e Cinelândia. Tradutor da Antologia Poética, Carlos Drummond de Andrade, Espanha (1986); e organizador de Toda a Poesia de Machado de Assis, Record (2008).

“C.M. como o verdadeiro jovem poeta de que fala W. H. Auden “gosta de vagabundear com as palavras e ficar escutando o que elas dizem”. As principais qualidades  positivas de C.M. são esse genuíno encantamento pelas palavras e conotações e, mais, uma certa saúde, uma certa coragem, um certa alegria criadoras que são raras nos poetas de agora”. Mário Faustino

“A dicção poética de C.M. que já nos espantara em outro pequeno e anterior volume, se confirma em economia e vigor nos poemas de Novos Poemas.” Walmir Ayala





LLANTO POR MI PATRIA

         Traducción de Saúl Ibargoyen
         y Jorge Boccanera

Tierra del apocalipsis,
almas calcinadas,
venas abiertas y desesperación,
aliento perdido en los caminos,

Noches negras y niebla
de los días deshechos.
¿Dónde está la luz,
los cielos luminosos?

Sólo te resta sufrir
mi país desvalido,
Y a los poetas les resta el canto
estéril, la queja inútil.









FEDERICO GARCÍA LORCA

Água com farolitos
a água
Federico.

Lua nos olivais
a lua
Federico.

Laranjas de ouro
laranjas
Federico.

Gitanos que cantan
gitanos
Federico.

Tua alma traída
a tua alma
Federico.


II

Federico, aonde vais?
-— a Granada.

E a tua voz de jasmins?
— amordaçada
E tua fronte cigana
— assassinada.


III

Ante a lua comovida,
cobre-se a cela de nardos,
sexta-feira da Paixão,
véspera de teu Calvário.
Um tremor de inquietos pássaros
paira em teus olhos cerrados
e um lençol de pesadelos
sobre teu corpo deitado.
O pensamento repousa
num romanceiro gitano
mas nas ruas de Granada
percorre um frêmito estranho.

Um sino sem esperança
anuncia a madrugada.
Uma hora
(angústias e solidão)
duas horas
(as estrelas se escondem)
três horas
(cravos martirizados)
quatro horas
(a Morte afia os seus punhais)
cinco horas
(chora o regato e o rouxinol).
Levam-te por uma estrada
de espinhos e crocodilos
como uma pomba aprisionada,
às cinco horas da madrugada.
As Bestas galopando
às cinco horas da madrugada
em seu tropel de espantos
às cinco horas da madrugada.
E quando por ti perpassa
às cinco horas da madrugada
um calafrio de lâminas,
descerram-se todos os sudários
e os lírios se enrubescem
às cinco horas da madrugada.
Às cinco horas da madrugada!
Eram as cinco em todos relógios!
Eram as cinco nos campos de Granada!


VI

Federico assassinado
na branca arei de Espanha
é uma rosa andaluza
sobre lençóis de Holanda.
Seu sangue espalha no ar
Um leve olor de lavanda,
seus ossos se pulverizam
em estrelinhas de nácar
e um pranto entre os ciprestes,
poesia inacabada,
soluça os versos mozárabes
de um romance fantasma.
La guardia civil caminera
a Federico levava:
ela, fome de pantera,
ele, orgulho de prata,
ela, veias insensíveis
e olhos frios, sem alma,
apaga a luz das estrelas
no sangue da madrugada.
Mil pandeirinhos sossegam
os seus murmúrios de água.
Um anjo deita a cabeça
sobre uma alva almofada
e a Morte com dedos finos
toca a sua velha guitarra.
Por Málaga ou Córdoba,
ou por Sevilha ou Granada,

vagueia como sonâmbula
uma voz assassinada.


Extraídos da antologia 41 POETAS DO RIO, org. de Moacyr Félix. Rio de Janeiro: Funarte, 1998.  512 p. 





VAMPIROS

Asas de vampiro que morcegais
docemente meus negros ais,
vós, juntos, os dentes jamais

libertaram minh’alma da amargura,
o meu coração, a selva escura
em que ele vive. Sei que dura

pouco sermos, assim, humanos,
mas não é com o passar dos anos
que se apagam vozes e desenganos.

O consolo vem do verso antigo,
que me lambe como um cão amigo
e parece querer dialogar comigo.

Ainda bem há cães e morcegos,
uns velam-me os sonhos e os sossegos,
outros são inimigos: alados e cegos.






ETERNIDADE

Passem os anos, os dias, os minutos,
os segundos, os terceiros, os quartos,
cães, poetas, reis, madres e putos,
os planetas de gelo, lavas e quartzos.
Passem milagres de cristos, os escorbutos,
que limparam e mancharam os corpos fartos
de tanto pecar, comer, lançar eructos
na mesa redonda para mortes e partos.
Passem as paixões, as artes, os esconjuros,
e fique no pó dos incunábulos, lácteo,
apenas o pacto das promessas e dos juros
eternos, assim como o inferno e o látego.
Para todos os hojes, sempres e futuros,
a eternidade espera a ordem: “mateo-o”.







INFINITO

Algo que fosse essencial e íntimo,
o âmago, o cerne, a medula:
o sidéreo campo, imenso e ínfimo.
Filósofo que cria e especula
o sentir e os saberes, lídimo
representante do Gênio e da Azêmola.
Uns riem e dançam, acompanham o ritmo
do Teatro do Mundo, onde espetacula
a trupe de anões, sacristãos e cambonos.
Outros lêem Nobre e Anjos, Só e Eu,
feitos de ácido amniótico e carbonos.
Infinita ascese, recolhido gineceu,
mantido com drágeas e sonos,
espaço uterino sem o meu e o seu.







LOUCURA

O pão que o diabo amassou também se come,
nem tudo é hóstia, carne ou peixe;
o jejum alegra o faquir sempre que deixe
em suas entranhas o frenesi da fome;
quando seu corpo se torna um magro feixe
de ossos, uma louca vertigem consome
o sonho que vem e volta, vai e some,
sem que o peripatético quixote se queixe
do seu destino de cavaleiro andante.
O farnel é parco, a utopia é farta,
as visões simbólicas são as de Dante.
Na viagem, sem astrolábio ou carta,
o que era depois passa a ser antes
e o naipe do desvario não se descarta.







ANGÚSTIA

A floresta que na sibéria arde,
combustão expontânea, lenta agonia,
é o carvão com que escreve kirkegaard
a página cotidiana que vangloria
a vitória do sol negro, naquela tarde,
em que a angústia veio, e ele não sabia.
Veio do pó, pé ante pé, sem alarde,
e apagou o texto que se imprimia
no livro noruego. Os necrológios,
últimos remorsos e quimeras,
revertem as hastes de vãos relógios,
buscando as frias, subterrâneas eras,
onde estão guardados os despojos
que resistiram ao sortilégio e às feras.]





De
Cláudio Murilo Leal
As guerras púnicas.  
Prefácio de Carlos Nejar.
São Paulo: Massao  Ohno Editor, 1990.   
111 p.  Capa de Arcâgelo Ianelli.




SONETO ATLÂNTICO

A vulva de mar que me envolve,
válvula maré que mexe e goza,
leva meu sémen limpo e devolve
detritos de água ferruginosa.

No ventre atlântico se dissolve
o ritmo vai-e-vem de nossas vidas,
amor que sempre foge e sempre volve
às mesmas chegadas e partidas.

Beber, beber, beber, fel oceânico,
em meu corpo de volúpia e pânico,
sorver tuas espumas de ressaca.

Onda. Linfa. Aquática hemorragia.
Engolfas  meu corpo, suja baía:
e sou o braço de mar que te ataca.





CORPO E ALMA

Como uma pevide,
áspera matéria.
Mas seu duplo é luz,
forma única e etérea.

O corpo vai tranquilo,
a alma com medo.
Um terá seu asilo
a outra o segredo.

Incógnito cemitério
dúvida de fogo e céu.
Sou aquele que vai.
O que fica: sou eu?





De
A ROSA PRÁTICA
Rio: Aldeia, 1966


ESTE POEMA

Este poema é solidão,
É um vôo de ave no azul.
Este poema é saudade
Mansa, e corre pra o nada

Este poema é a lembrança
De um amor feito de bruma
E de tudo que resta dele:
 Um trigal de cinzas desoladas.

Este poema não é feito
De alegria, nem de aleluias.
Esse poema é um noturno canto:
Perde na manhã o seu encanto.





ANTIPOEMA DO ESQUECIMENTO

O longe se refrata
No espelho.

Um estilhaço
Rompe a bruma.

O esquecimento
É límpida manhã.






MÓBILE

Nas nuvens — desejos — 
Pássaros outonais
Azuis azulejos
Em finos metais

No vento o mistério
Caminha mais e mais
Alguém leva a sério
Os meus madrigais?

Na rosa dos ventos
Nos pontos cardiais
Meus pobres inventos
São seres reais.





LUDUS DO AMOR IMPOSSÍVEL

Este amor
Não e sim
Enterrou-se 
No jardim

Este amor
Sim e não
Abre em flor
De ilusão

Este amor
Não e não
Como chuva
De verão.






POETA, CANTA

O poema é ócio?
Perdida e puma
Em mar no cio?
Ou será alguma

Flor inodora,
Sonho, fastio?
Ou será agora
A fome e o frio?

Poeta, canta
O estrito mundo
Que te espanta,
Mesmo imundo.

O poema hoje
É guerra e grito.
Prepara na forja
Um canto infinito.




De
Cláudio Murilo Leal
13 bilhetes suicidas.  2 ed.  
Rio de Janeiro: Batel, 2009.   
47 p. ilus.  


“De um ponto de vista estritamente formal ou mesmo estilístico, os 13 bilhetes relevam por sua economia e concisão seja do prisma da linguagem, seja do ângulo das imagens e metáforas, às quais o autor recorre com notável parcimônia e senso de propriedade. Não há sobra nem abuso nesses poemas que se pretendem, acima de tudo, austeros e talvez algo lacônicos.” IVAN JUNQUEIRA



I

Riscar o fósforo:
o banho de gasolina
         sob chuveiro fatal.
Recordar a palavra,
flor de espinhos preservada
         entre recibos e entradas
de teatro.
Recordar o exato momento
         quando o telefone tocou
o minuto estagnado
         sem ponteiros no relógio.
Ninguém impede
a mão que acende o fogo;.
Depois, a notícia no jornal.



II

O áspero fio da faca
         não serve
para os seus desígnios.
Será gilete, estilete,
         o frio das agulhas.
Resgatar com o suicídio
         a palavra de cânfora
que oxidou todos os sóis
         da infância.
É preciso executar
         o rito terminal.
A luz, a lâmina,
nuvens sonolentas de mercúrio,
a pia, a privada, o bidê,
a banheira ensanguentada.

(...)


Os 13 bilhetes de Cláudio Murilo Leal formam um continuum dramático, dilacerante, numa economia de palavras contradizendo a vertiginosa profusão de imagens e sensações que levam o leitor ao (próprio) suicídio. Emocionante. Quem não suicidou alguma vez?”  ANTONIO MIRANDA



De
Cláudio Murilo Leal
MÓDULOS  
Rio de Janeiro: Sette Letras, 1998.  299 p



20 de abril

No princípio, a vida, o pólen,
espermatozóides kamikazes,
corações ao alto, orai, orai.
Aqui, no asfalto, as fezes.

Renascer das cinzas, da droga,
dos chopes elétricos, fénix.
Sair desse hospício, da noite,
sol em catarse, em zênit.

Ver a luz, a folha, Sábado
de Aleluia, céu ( vermelho).
Subir como um zeppelin,
longe do alcance das baterias
antiaéreas. A vida: primavera.
Gérmens, bactérias, genes
embalsamam o Corpo.





Vida morta

Alameda sem fim,
beco sem saída,
caminho de mim a mim
mas não descubro a vida.

Apesar de querer, não consigo,
o presente já é passado
e nunca encontro comigo
na esquina, no espelho quebrado.

Se fujo, carrego-me junto,
se enfrento, me abandono,
a ficção não serve de assunto,
a realidade morre de sono.



De
Cláudio Murilo Leal
Cinelândia
Rio de Janeiro: Sette Letras, 2002. 61 p.  


De Antonio Miranda para Cláudio Murilo Leal:       
a Cinelândia foi também o cenário de boa parte de minha juventude. Antes e depois da demolição do Monroe, e de minhas crenças e convicções políticas... Comecei meus estudos universitários nos porões da Biblioteca Nacional e voltei a ela, na condição de assessor, depois de andar, tal como você, meu caro poeta, por muitos países. Antes de recolher-me, uma vez mais, nas alturas planaltinas de Brasília.

Agradeço o envio de seus livros, e celebro esta peça onírica e memorialista, entre verdades e invenções, com personagens que assistimos nos escombros. E aqui vai um fragmento de seu livro para os nossos internautas:



GRAN FINALE

 O dia vinha chegando  ao seu ocaso de cores,
a púrpura do sol em tons de aquarela
se esvaía, como veias abertas, nas dores
das lâminas rubras e amarelas.
Os cadáveres desafiavam a eternidade,
esperando que alguém viesse recolhê-los.
Fevereiro incendiava o vento
que fustigava as fantasias, as armas, os cabelos
ensanguentados dos pretendentes.
                            Memento moris.

Alguns foliões vão se aproximando
e espiam, curiosos, pela porta,
enquanto os ritmistas estão chorando,
despedindo-se da quarta-feira morta.



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