jueves, 2 de octubre de 2014

BIANCA LAFROY [13.534]


Bianca Lafroy 

(Curitiba, Brasil, 1985). Poeta poeta e ficcionista. Publicou Embrulho líquido (Iluminuras, 2012).
Abandonou o curso de jornalismo no terceiro ano e ganha a vida como travesti nas ruas de Curitiba.





LEFROY, Bianca.  Embrulho líquido.  São Paulo, SP: Iluminuras, 2012.  96 p.  14x19 cm.  Projeto gráfico e capa de E. Segrob.  Desenho da capa: Maxx Figueiredo.   ISBN 978-85-7321-362-1   Col. A.M.
 
 
Uma obra surpreendente, o livro do(a) Bianca. Belo texto, belas imagens. Não é para qualquer um... Vá com cuidado, sem preconceito. 
ANTONIO MIRANDA

Bianca Lafroy es un héroe o una heroína sobrerreal cuya impronta se lee como el negativo de cada poema, en una línea que desciende del argentino paulista Néstor Perlongher, tanto del poeta de “¿Por qué seremos tan hermosas?” como del autor del Negocio del Miché. Prolonga esa línea de exquisita in-definición, en que la impostura de una travesti es el recalco de un andrógino. Ya es hora de que los bordes entre lo masculino y lo femenino se derrumben, y aquí el oído de la poesía está dedicado a la fracción infinitesimal de un rompimiento de fronteras y de un pasaje, como en aquel verso del poeta venezolano Marco Antonio Ettedgui: “se me pasa de hombre a mujer, basta un parpadeo”. Y este parpadeo es el momento poético de Bianca, estupendo pero no requintado. Como una constelación, se van adhiriendo aquí fragmentos de textos imantados por este fenómeno, fragmentos al imán del pasaje a dos tiempos, a dos focos, un delicado equilibrio en que se está sin estar en los platillos del consabido sistema binario del género, más bien rompiendo la opresión y violencia de la matriz del género. En este sentido es un texto profético, una profecía del presente, la medida de una apertura de la sensibilidad, y el descubrimiento de lo que siempre estaba allí. 
Roberto Echavarren...(in: contracapa de Embrulho Líquido)
 



Eu sou Hedwig,
o CABEÇA-DE-ROUBADO da ex-alemanha oriental.
Eu sou Nano Florane,
o marinheiro passivo do navio pirata
(desnudo no significado de
frégate
ou como dizem os anglo-saxões
e suas diluições:
frigging).
Eu sou Jean Gejietti,
estudei as ruas e também os mares,
sei dos uniformes dos escravos
que manobravam remos no século XVII,
de sua lona cinza sobre os músculos,
suas correntes se chamavam “ramos”
e os punhos de renda, jabô e meias de seda
do capitão
Notre Homme.
Eu sou François-Timoléon de CHOISY, o abade.
Eu sou Madame Satã, Edwarda?
Ou serei Rrose Sélavy?



 

Enquanto você embota
com o tempo
em mim brota e aguça
a sensibilidade e a graça —
as coisas perdem o seu lugar.
 
A COLHER PONTUDA
(feito garfo) servia bem à mesa
agora serve melhor
no pote de café
(vidro de azeitonas reciclado).
 
Os olhos verdes que estavam dentro
e não eram de vidro
foram para a pizza.
 
 




Hoje os pelos pareciam duros.
Fiz vários COÁGULOS ao retirá-los
da superfície visível.
 
Quem saberá o que ela sentiu
ao perceber que a farda
que vestia da polícia florestal
é igual para homem
e mulher?






A verdade é
que a pessoa que em mim
sente está mentindo.
 
O carbono
das palavras.
 
(Zaratustra comia beterraba
ou couve-flor roxa.)
 
Hoje rasguei em pequenos pedaços
a SEDA DO ALFACE.
 
Retalhos irregulares.
 
Quais as pessoas que não eu
têm consciência 
que representam não ser o que são?
 





Lubrificar orifícios
é uma ARTE.
 
Na formação do michê,
dominar os próprios mucos
é como aprender uma língua antiga.
 
Conversamos sobre isso no MON
ao admirarmos os traços-esperma,
a viscosidade visual,
os mucos de Münch.
 
Na rua, numa exibição,
ele fez seu cuspe espesso
cair em pé.
 





O embrulho líquido,
mergulho abissal no elemento móvel
e FEMMINIELLO.
Anfíbio-fêmea tatuado
no couro e
camuflado na escama prateada.
Tatoo azulada, aureolada,
cintilada e trans
formada em peixe-girl.
 





Em si mesmo,
em seus órgãos que eu imaginava elementares
mas de tecidos sólidos
e de vislumbres matizados
muito belos,
nas TRIPAS QUENTES E GENEROSAS,
eu acreditava que ele elaborava
sua vontade de impor,
de aplicar,
de torná-las visíveis,
A hipocrisia,
A besteira,
A maldade,
A crueldade,
A servilidade
e de obter na sua pessoa inteira
o mais obsceno êxito.



 
 
 
A leveza aniquila superfícies.
Leveza-rarefação,
corpo envolto em bolhas de ar
sob um céu aquoso,
no limiar dos mundos
turvado e oxigenado
(único som é próximo
do estalido
de hímen de homem).
Átona, lama na boca,
LINGUA LETAL de um dialeto,
lótus que aflora
(meu nome de guerra).
 





 
A SEGUNDA NATUREZA
(respiração em bolhas,
toque gelado dos seres
liquefeitos e entregues
à diversidade e afeitos
à algazarra das algas 
e ramas; entremeadas,
enganchadas, medusadas
nos na nas no em), afoita,
imprescindível.
 
 



 
Nadja,
A PASSANTE ENIGMÁTICA,
apariçâo-desapariçâo
e perigo.
Eu sou todos os mitos
de Maria Madalena.
Eu juro que não sou Júlia Wanderley
Serei Jo Calderone by Gaga?
Leo? Lou?
("Não sou uma resposta.
Eu sou uma pergunta.")
Ou o dialeto inventado
em língua-esperma.
 
 

 
 
Na esquina,
caça e caçadora se cruzam.
ElaEle de quadris silíconados,
ritmo SALTO ALTO,
fiel ao que a mantém ob
                                       scena
                                                 : em frente à cena.
 
No quarto, de quatro,
a presa se livra do seu terno e gravata
abrindo seu fractal
(o cuspe escorre a canaleta das costas
                                                 até o anel de couro)
 
Minha língua-cunete o faz trair sua etimologia oco.
Azulei-o e ele melou de nena minha neca.
 
 
 





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