lunes, 28 de abril de 2014

JOAO BENTES [11.590]

JOAO BENTES

Nació en Faro, PORTUGAL. De su obra poética, una pequeña parte se ha publicado en antologías de poesía del suelo al sur (Arca, 2005) y Poema Poema (Punta Umbría, 2006). 

Acaba de lanzar, en 2013, su primer libro, Las Odas (4águas).




porque la televisión nos libra de pensar
y el estado vela por la higiene de los días
garantiza tu futuro en un curso superior
y fomenta tu endeudamiento ante de los 30
con todo lo que necesitas para tu felicidad
cumple las eternas 8 horas de tu día
ahoga tus penas en la cerveza con tus amigos
escupe escupe ríndete encabrónate y trabaja
por encima de todo está el interés del país
el respeto y la  bendición de la familia
la libertad que nos trajo la democracia
cuando en el 74 aquella cosa de los claveles
liberalizó el acceso al aire acondicionado.

           



              

porque a televisao poupa o pensar
o estado zela pela higiene dos dias
garante o teu futuro num curso superior
e vê se te endividas antes dos 30
com tudo o que precisas para a tua felicidade
cumpre as eternas 8 horas do teu dia
afoga as mágoas na cerveja com os teus amigs
cospe cospe  rende-te encona-te e trabalha
acima de tudo está o interesse do país
o respeito e a bênção da familia
a liberdade que nos trouxe a democracia
quando em 74 aquela coisa dos cravos
liberalizou o acesso ao ar condicionado

Extraido del libro Odas, 4águas, 2013 
Publicado por Santiago Aguaded Landero




o meu país


o meu país é a lei da aparência
uma simulação ateada nos corredores da política
com a inspeção em dia certificada
pelos agentes do mercado financeiro
neste tempo em que todos os problemas
boiam entre a merda da culpa em que vivemos
acima das nossas possibilidades



o meu país é onde eu nunca andei de submarino
onde as novelas ensinam que há patrões e empregados
para que o cidadão pequenino do meu país perceba
que deus põe sempre a mão por baixo



o meu país é um país moderno
é um país que abraçou a união e o progresso
com vários políticos muito bem sucedidos
e muitos e bons empreendedores activos
e eu tenho muito orgulho no meu país
que é muito livre e democrático



o meu país é o país onde se diz
que há falta de liberdade de expressão
quando se manda calar um criminoso



o meu país é uma caldeirada
leva pouco peixe e muita batata



o meu país é o da turma da gravata
onde há vergonha de cantar o que nos mata



o meu país é onde é necessário
trabalhar mais e receber menos salário
onde é preciso pagar tudo mais caro e aguentar
porque os heróis são aqueles que mais aguentam
em nome do bem e da virtude que é
viver assim num país feito de miséria



o meu país é o país dos quatro efes
fado futebol fátima e que se fodam
aqueles que não aguentam a austeridade boa



o meu país é uma questão de família
o pai a pátria o partido
estás aqui e aguentas porque és preciso
vais trabalhar uma vida e ser enterrado vivo
mas descansa que é o céu e p’rós teus filhos
hão-de vir os filhos deles p´ra lhes mostrar o caminho



o meu país é uma fronteira que arde sem se ver
que é funda e que dói e não se sente
pois p’ra sentir é preciso ser mais que gente
que ganha roubando dizendo que tem de ser



o meu país é o que trago vestido
é o sono que não tenho dormido
a chuva ácida que dissolve as cidades
o flagelo da consolidação a factura
que declara o imposto



o meu país é aquilo que eu não posso ser
porque ser feliz agora seria contrariar
o psi 20 o preço da gasolina e as promoções
com que os jerónimos martins ajudam o pobrezinho



o meu país é o que exporta as pessoas
que não conseguem pagar a sua vida



o meu país é o do trabalho
onde a vida é mercadoria p’ra vender ao desbarato



o meu país é o da esperança
onde qualquer puta dança ao som do bom dinheiro



o meu país tem uma voz
a que está hoje nas ruas do meu país inteiro

joão bentes



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